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Em 1958, ainda durante o governo de Juscelino Kubitschek,
o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) começou a discutir um conjunto
de propostas que visava promover alterações nas estruturas econômicas,
sociais e políticas que garantisse a superação do subdesenvolvimento e
permitisse uma diminuição das desigualdades sociais no Brasil. Naquele
momento, a definição dessas medidas e de seu alcance ainda era pouco
clara. Foi apenas com a chegada do presidente João Goulart
à presidência da República, em setembro de 1961, que as chamadas
"reformas de base" transformaram-se em bandeiras do novo governo e
ganharam maior consistência.
Sob essa ampla denominação de "reformas de base" estava reunido um
conjunto de iniciativas: as reformas bancária, fiscal, urbana,
administrativa, agrária e universitária. Sustentava-se ainda a
necessidade de estender o direito de voto aos analfabetos e às patentes
subalternas das forças armadas, como marinheiros e os sargentos, e
defendia-se medidas nacionalistas prevendo uma intervenção mais ampla do
Estado na vida econômica e um maior controle dos investimentos
estrangeiros no país, mediante a regulamentação das remessas de lucros
para o exterior.
O carro-chefe das reformas era, sem dúvida, a reforma agrária que
visava eliminar os conflitos pela posse da terra e garantir o acesso à
propriedade de milhões de trabalhadores rurais. Em discurso por ocasião
do encerramento do 1° Congresso Camponês realizado em Belo Horizonte em
novembro de 1961, João Goulart, afirmou que não só era premente a
realização da reforma agrária, como também declarou a impossibilidade de
sua efetivação sem a mudança da Constituição brasileira que exigia
indenização prévia em dinheiro para as terras desapropriadas.
No entanto, a aceitação da mudança da constituição encontrava forte
resistências por parte dos setores mais conservadores do próprio
governo. Para enfrentar tais dificuldades, Goulart criou em 1962 o
Conselho Nacional de Reforma Agrária, mas essa iniciativa não teve
nenhum resultado prático. Durante todo o governo parlamentarista a
agenda das reformas não avançou.
Com o restabelecimento do presidencialismo em janeiro de 1963 e a
ampliação dos poderes de Goulart, a implementação das reformas
tornava-se urgente. Novamente a reforma agrária voltava ao centro do
debate político. No primeiro semestre de 1963, Goulart apresentou às
lideranças políticas para debate, um anteprojeto de reforma agrária que
previa a desapropriação de terras com título da dívida pública, o que
forçosamente obrigava a alteração constitucional. Uma segunda iniciativa
para agilizar a agenda das reformas foi o encaminhamento de uma emenda
constitucional que propunha o pagamento da indenização de imóveis
urbanos desapropriados por interesse social com títulos da dívida
pública. Essas propostas, no entanto, não foram aprovadas pelo Congresso
Nacional, o que provocou forte reação por parte dos grupos de esquerda.
O fortalecimento dos movimentos populares, concretizado através do
aumento do poderio dos trabalhadores urbanos e da crescente organização
das massas rurais, intensificou as pressões sobre o governo para a
implementação das reformas. A eclosão, em setembro de 1963, da Revolta
dos Sargentos – movimento que reivindicava o direito de que os chamados
graduados das forças armadas (sargentos, suboficiais e cabos) exercessem
mandato parlamentar em nível municipal, estadual ou federal, o que
contrariava a Constituição de 1946 - foi mais um fator para a
polarização política e para denunciar a urgência das reformas de base.
O ano de 1964 iniciou-se com o virtual isolamento de Jango e com o
esgotamento das negociações com o Partido Social Democrático (PSD) e as
forças mais conservadoras, para implementar a agenda do governo. Neste
quadro, a nova estratégia de Goulart foi organizar uma ofensiva política
apoiada pelos principais grupos de esquerda para garantir o apoio às
reformas de base. O plano de ação era o seu comparecimento a uma série
de grandes comícios nas principais cidades do país, a fim de mobilizar a
maioria da população brasileira em favor das reformas.
Essa nova fase foi inaugurada no dia 13 de março de 1964, com o
comício realizado na estação da Central do Brasil, no Rio de Janeiro,
também denominado Comício das Reformas, ao qual compareceram cerca de
150.000 pessoas. Na ocasião, Goulart proclamou a necessidade de mudar a
Constituição e anunciou a adoção de importantes medidas, como a
encampação das refinarias de petróleo particulares e a possibilidade de
desapropriação das propriedades privadas valorizadas por investimentos
públicos, situadas às margens de estradas e açudes.
O golpe militar de 31 de março de 1964 e o afastamento de Jango da presidência impediram a concretização das almejadas reformas.
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