• Matéria: Sociologia
  • Autor: Ayume33
  • Perguntado 8 anos atrás

Do ponto de vista daqueles que trabalham, o que significa mudar o mundo ?

Respostas

respondido por: ryanedu9otm24e
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O fracasso das ideologias do século 20 parece aconselhar prudência na hora de calibrar o patamar dos nossos sonhos sociais. Apostar na possibilidade de profundas transformações sociais seria coisa de gente ingênua ou piegas. O mais aconselhável – insinua a experiência – é manter os pés no chão e não criar grandes expectativas, que, quase sempre, acabam em frustrações.

Diante do desejo de uma sociedade mais justa, às atuais gerações seria permitida, no máximo, a escolha de um bom projeto social, financeiramente sustentável e profissionalmente conduzido sob as regras da boa governança. Esse seria o limite do horizonte transformacional disponível para o mundo contemporâneo.

Certamente os tempos atuais são testemunha de uma revolução do terceiro setor. A incorporação das boas práticas – e de excelentes profissionais – do mundo corporativo proporcionou uma nova perspectiva para a área social, com animadores resultados. Foi superada a mentalidade, tão frequente em outras décadas, de que a condução de um projeto social podia ser menos profissional que a gestão de uma empresa. Nos dois casos – cujas áreas de interseção são cada vez mais amplas – pode e deve haver clareza institucional e excelência operacional.

O novo modus operandi do setor social é, sem dúvida, um profícuo caminho. Mas será ele o único? Todos os nossos sonhos sociais precisam restringir-se ao terceiro setor, cujos avanços são sempre circunscritos a uma específica situação social? É infantil querer ainda mudar o mundo? É ingênuo, por exemplo, sonhar com a possibilidade de um horizonte humano e profissional entusiasmante para todas as nossas crianças?

Essas perguntas não são resolvidas por uma equação matemática. Não é difícil, por exemplo, encontrar argumentos, das mais variadas cores ideológicas, para um ceticismo social. Além disso, todos os que já se envolveram numa causa beneficente têm sua experiência pessoal, com aspectos positivos e negativos. Otimismo e pessimismo não são reações meramente racionais diante da vida. São, antes de tudo, respostas vitais, fortemente moldadas pelas disposições e circunstâncias pessoais.

De toda forma, é muito bem-vindo o esforço racional para fundamentar nossas opções. Nessa tarefa o mundo contemporâneo nos brinda com duas evidências que confirmam cabalmente a possibilidade de profundas mudanças sociais. Existem, sim, razões para otimismo.

Refiro-me às causas do meio ambiente e do casamento gay. Esteja você a favor ou contra, seja liberal ou conservador – mesmo, por exemplo, que não compartilhe o atual consenso de que o princípio da não discriminação exige a aplicação dos efeitos jurídicos do casamento às uniões homoafetivas –, essas duas causas, ao confirmarem a possibilidade de mudanças culturais significativas promovidas a partir de uma estratégia previamente elaborada, são muito inspiradoras.

Elas evidenciam que não há um destino inexorável, no qual a ação humana é irrelevante. Ao contrário, é possível promover mudanças profundas. A experiência dessas duas causas liberta da mentalidade de que os deuses determinam o futuro, como na Grécia antiga. Nos dias de hoje ninguém formula com essas palavras o seu pessimismo social, mas quando se postula uma visão em que o passado e o presente parecem determinar decisivamente o futuro, os efeitos são rigorosamente os mesmos: desesperança com a mudança e tendência à passividade.


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