• Matéria: Português
  • Autor: moralnayara6374
  • Perguntado 8 anos atrás

Seo Ornelas, nessa ocasião, tinha amizade com o delegado dr. Hilário, rapaz instruído social, de muita civilidade, mas variado em sabedoria de inventiva, e capaz duma conversação tão singela, que era uma simpatia com ele se tratar. — “Me ensinou um meio-mil de coisas... A coragem dele era muito gentil e preguiçosa... Sempre só depois do final acontecido era que a gente reconhecia como ele tinha sido homem no acontecer...” Ao que, numa tarde, Seo Ornelas — segundo seu contar — proseava nas entradas da cidade, em roda com o dr. Hilário mais outros dois ou três senhores, e o soldado ordenança, que à paisana estava. De repente, veio vindo um homem, viajor. Um capiau a pé, sem assinalamento nenhum, e que tinha um pau comprido num ombro: com um saco quase vazio pendurado da ponta do pau. — “... Semelhasse que esse homem devia de estar chegando da Queimada Grande, ou da Sambaíba. Nele não se via fama de crime nem vontade de proezas. Sendo que mesmo a miseriazinha dele era trivial no bem-composta...” Seo Ornelas departia pouco em descrições: — “... Aí, pois, apareceu aquele homenzém, com o saco mal-cheio estabelecido na ponta do pau, do ombro, e se aproximou para os da roda, suplicou informação: — O qual é que é, aqui, mó que pergunte, por osséquio, o senhor doutor delegado? — ele extorquiu. Mas, antes que um outro desse resposta, o dr. Hilário mesmo indicou um Aduarte Antoniano, que estava lá — o sujeito mau, agarrado na ganância e falado de ser muito traiçoeiro. — O doutor é este, amigo... — o dr. Hilário, para se rir, falsificou. Apre, ei — e nisso já o homem, com insensata rapidez, desempecilhou o pau do saco, e desceu o dito na cabeça do Aduarte Antoniano — que nem fizesse questão de aleijar ou matar... A trapalhada: o homenzinho logo sojigado preso, e o Aduarte Antoniano socorrido, com o melor e sangue num quebrado na cabeça, mas sem a gravidade maior. Ante o que, o dr. Hilário, apreciador dos exemplos, só me disse: — Pouco se vive, e muito se vê... Reperguntei qual era o mote. — Um outro pode ser a gente; mas a gente não pode ser um outro, nem convém... — o dr. Hilário completou. Acho que esta foi uma das passagens mais instrutivas e divertidas que em até hoje eu presenciei...” (ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 9 ed.) O narrador, nessa passagem, descreve, com a linguagem inovadora e saborosa que Guimarães Rosa impõe às suas estórias, um episódio que é sintetizado, ao final, no mote " Um outro pode ser a gente; mas a gente não pode ser um outro, nem convém...". Esse mote foi proferido porque , na narrativa,? gostaria de saber, por favor.

Respostas

respondido por: Liziamarcia
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Guimarães Rosa no mote " Um outro pode ser a gente; mas a gente não pode ser um outro, nem convém...".

Significa que qualquer pessoa , (o outro ) pode nos substituir em uma determinada função .Mas " o outro NUNCA pode ser a minha PESSOA. Ser EU .
." EU SOU EU MESMO"
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