O poeta
O Poeta beija tudo, graças a Deus... E aprende com as coisas a sua lição de sinceridade... E diz
assim: “É preciso saber olhar...”. E pode ser, em qualquer idade, ingênuo como as crianças,
entusiasta como os adolescentes e profundo como os homens feitos... E levanta uma pedra
escura e áspera para mostrar uma flor que está por detrás... E perde tempo (ganha tempo...) a
namorar uma ovelha... E comove-se com coisas de nada: um pássaro que canta, uma mulher
bonita que passou, uma menina que lhe sorriu, um pai que olhou desvanecido para o filho
pequenino, um bocadinho de Sol depois de um dia chuvoso... E acha que tudo é importante... E
pega no braço dos homens que estavam tristes e vai passear com eles para o jardim... E reparou
que os homens estavam tristes... E escreveu uns versos que começam desta maneira: “O segredo
é amar...”.
(Sebastião da Gama. In: Lilaz Carriço, M. Correia Fernandes e Héldes Tavares. Língua materna.
Portugal: Porto Editora.)
TEXTO 2
Emergência
Quem faz um poema abre uma janela.
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Respira, tu que estás numa cela
abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.
(Mário Quintana, Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001,
p. 117.)
TEXTO 3
Maristela,
duas meninas
duplamente belas.
Maristela:
Stela tem a estrela.
Em Maria, o mar vivia.
Maristela,
menina de céu e mar,
onde a estela nada
molhada e fria.
Nenhuma palavra vive sozinha. Toda palavra é composta. Se escrevo mar, nessa palavra
rolam ondas, viajam barcos, cantam sereias, brilham estrelas, algas, conchas e outras praias. Se
digo pai, é aquele que me ama ou aquele que não conheci, ou aquele, ainda, que me abandonou.
Toda palavra brinca de esconder outras palavras. Quando se lê uma palavra o coração escreve
mais outras. Escrever é escutar a palavra e registrar o que ela nos pede. É a palavra que nos
inscreve.
Ao passear os olhos sobre a palavra passei a escutá-la em seus segredos. Desdobrá-la,
reordenar seus fragmentos, me parecia acentuar seu sabor. Por ser assim, cada palavra exigia
um novo exercício. Sua desmedida intensidade me conduzia a outras direções, me solicitava
adicionar, em sua leitura, minha liberdade de pensar.
(Bartolomeu Campos de Queirós. Para ler em silêncio. São Paulo: Moderna, 2007. P. 52-3.)
EXERCÍCIOS
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20. Cada um dos textos aborda um tema diferente; contudo, os três apresentam semelhanças
quanto às ideias.
a) De que trata cada texto?
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b) Em que aspecto os textos se assemelham?
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21. Releia estes trechos do texto 1 acerca do poeta:
“E pode ser, em qualquer idade, ingênuo como as crianças, entusiasta como os adolescentes e
profundo como os homens feitos...”
“E levanta uma pedra escura e áspera para mostrar uma flor que está por detrás...”
a) Considerando o 1º trecho, responda: existe idade para ser poeta?
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b) Explique do que é capaz o poeta, de acordo com o segundo fragmento.
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22. O poema “Emergência”, de Mário Quintana, emprega uma linguagem figurada, rica em
imagens e sentidos. De acordo com o texto:
a) O que representam, para os leitores de poesia, a janela, o ar e a cela abafada?
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b) Interprete o verso: “Quem faz um poema salva um afogado”.
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23. Segundo o texto 3, “nenhuma palavra vive sozinha” e “toda palavra brinca de esconder outras
palavras”. Interprete essas afirmações.
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Respostas
b)Eles se assemelham pois falam a mesma de maneira diferente um do outro.
21 a) Não, pois cada um tem o seu tempo de criar, uns criam quando são crianças outros mais velhos e assim por diante.
b)Que ele é capaz de fazer qualquer coisa para que possa criar.
22 a) Representa que tem pessoas livres que não aproveitam a liberdade de viver, e as pessoas que estão na cela tem que viver com as suas consequências sem ter a sua liberdade.
b) Esse verso diz que uma pessoa que ler algum poema e estiver triste pode acabar ficando alegre tirando essa pessoa do estado em que ela estava.
23 Que uma palavra pode significar varias outras coisas, dependendo do contexto.
20. a) O primeiro texto fala sobre como os poetas possuem a capacidade de transformar as pequenas coisas em poesias repletas de sentimento, como o sol em um dia chuvoso ou o olhar de um pai para o filho. O segundo texto fala sobre como as palavras dos poemas levam vida às pessoas. Já o terceiro texto fala sobre as palavras e como estas estão sempre acompanhadas e nos trazem diversos sentimentos.
b) Todos os textos falam sobre como a linguagem é capaz de evocar sentimentos, principalmente na poesia.
21. a) Não, não existe um tempo certo para ser um poeta, o que pode ser justificado pelo trecho "E pode ser, em qualquer idade". Para o autor, é preciso apenas saber olhar e isso é possível em todas as idades.
b) O poema é capaz de salvar um afogado, o que se trata de uma metáfora. Na verdade, o poeta quer passar a ideia de poesias são poderosas e que conseguem tirar a pessoa de estados de tristeza, por exemplo, dando significado para a vida.
22. a) A cela pode ser interpretada como o cotidiano da pessoa. Quando ela lê um poema, ela abre uma janela, isto é, consegue vislumbrar outras realidades da qual respira, consome.
b) O poeta transforma vidas ao trazer um pouco da beleza de viver para aquela pessoa que encontra triste.
23. As afirmações insinuam que as palavras são vivem sozinhas pois estão sempre associadas com outras, seja em uma conversa ou em poemas. Uma palavra acaba trazendo outra. Dessa forma, o poeta diz que as palavras escondem outras palavras.
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