Q121 - Lépida e leve
Língua do meu Amor velosa e doce, / que me convences de que sou frase, / que me contornas, que me vestes quase, / como se o corpo meu de ti vindo me fosse. / Língua que me cativas, que me enleias
/ os surtos de ave estranha, / em linhas longas de invisíveis teias, / de que és, há tanto, habilidosa aranha... / [...] / Amo-te as sugestões gloriosas e funestas, / amo-te como todas as mulheres / te amam, ó língua-lama, ó língua-resplendor / pela carne de som que à ideia emprestas / e pelas frases mudas que proferes / nos silêncios de Amor!... (MACHADO, G. In: MORICONI, I. (org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001 (fragmento)).
A poesia de Gilka Machado identifica-se com as concepções artísticas simbolistas. Entretanto, o texto selecionado incorpora referências temáticas e formais modernistas, já que, nele, a poeta
A) procura desconstruir a visão metafórica do amor e abandona o cuidado formal.
B) concebe a mulher como um ser sem linguagem e questiona o poder da palavra.
C) questiona o trabalho intelectual da mulher e antecipa a construção do verso livre.
D) propõe um modelo novo de erotização na lírica amorosa e propõe a simplificação verbal.
E) explora a construção da essência feminina, a partir da polisswmia de "língua", e inova o léxico.
Respostas
ALTERNATIVA E
O modernismo de 22 “quebrou” com a tradição da forma de escrita do parnasianismo e com uma temática que falasse do Brasil, do cotidiano, da vida comum presente em cada dia.
A partir de então, qualquer assunto cotidiano poderia ser transformado em poesia.
No poema, a autora Gilka Machado fala a respeito de um tema nacional (a língua) de maneira extremamente feminista, visto que a língua pode ser tanto a língua falada quanto a língua parte do corpo de sua amada. Pode – se fazer com ambas leituras o texto. (Polissemia: quando uma palavra ou expressão adquiri novo sentido - no poema, ha dois sentidos para a palavra "lingua").
Alem disso, a autora inova ainda mais ao criar palavras, como “língua – lama” e “língua – resplendor”, coisa que os parnasianos ou mesmo o classicismo não faziam.
(léxico: conjunto de vocábulos de uma língua.)
Resposta:
E) explora a construção da essência feminina, a partir da polisswmia de "língua", e inova o léxico.
Explicação:
O eu lírico busca, a partir da palavra polissêmica “língua”, uma extensão significativa podendo ser “língua-lama”, “língua-resplendor”, além do fato de fazer referência à língua como órgão e à língua como código linguístico. A poesia de Gilka é essencialmente feminina, pois sua lírica explora os anseios femininos por meio dos adjetivos “lépida” e “velosa”.