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Assim, definir e compreender a pobreza e suas várias dimensões é, também, tornar transparente o número da população excluída de políticas públicas e de direitos sociais previstos e assegurados pela Constituição brasileira. Portanto, o Brasil, com 170 milhões de habitantes, a nona economia mundial e a quarta maior concentração de renda do planeta (só perdendo para países como Serra Leoa, República Centro-Africana e Suazilândia), tem em seu território cerca de 50 milhões de pessoas vivendo em condições de indigência, com renda inferior a 80 reais por mês. Ou seja, 29,26% da população do país não conseguem atender minimamente a suas necessidades diárias, de acordo com a pesquisa divulgada no primeiro semestre de 2002 pelo economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro.
No que concerne à concentração de renda no Brasil, é importante notar que, enquanto 1% das famílias mais ricas consome 15% da renda, mais de 85 milhões de pessoas, que compõem a metade mais pobre da população, consomem apenas 12%. Em meio a esses dados numéricos, há também a triste revelação de que a concentração extrema da renda está apoiada numa estrutura de poder fortemente controlada por elites tradicionais - locais e nacionais -, que pouco mudaram sua maneira de fazer política e de governar o país no último século.
No relatório elaborado em 2000 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) sobre a pobreza no planeta, foi explicitado que, no Brasil, a maior parte dos benefícios sociais se destinava à classe média e aos ricos.
Também segundo esse estudo, a persistência da pobreza em nosso território tinha como causa direta as diferenças abissais de renda. Seguindo a mesma ordem de raciocínio, tal relatório afirmava que novas políticas eram necessárias para reduzir a desigualdade e estimular um maior crescimento econômico. Por fim, esse documento chamava a atenção para o fato de que a distribuição desigual do gasto social era a grande responsável pela persistência da pobreza no país.
Em meio a esse cenário desolador, acrescente-se a dificuldade da população empobrecida de ocupar espaços de informação, conscientização, mobilização e participação política. Como é sabido, quanto mais pobres existirem numa sociedade, menores serão as chances de gerar espaços políticos de controle e mudança social.