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Em Anarquistas, Graças a Deus, Zélia Gattai nos conta causos de sua infância em uma divertida biografia. Seus pais, italianos e anarquistas, escolheram morar em São Paulo, onde a comunidade italiana crescia e se assentava. Mais precisamente, na Consolação onde ficavam os imigrantes pobres – ao lado da Paulista, onde ficavam os ricos. (Nada mudou desde então, portanto. rs)
A adaptação dos Gattai no Brasil se deu como que uma amálgama: sua mãe, Dona Angelina, não aprendeu o português direito e passou a vida inventando algumas expressões que não faziam sentido nem em uma língua, nem em outra. Gostava de jogo do bicho e interpretava os sonhos dos filhos – cinco no total – para saber em qual bicho jogar. Invariavelmente acertava. Defensora árdua dos animais, aceitava todos que entravam na casa pelo portão que não fechava – inclusive um bode que acabou causando certos problemas com seu apetite infinito.
Seu pai era mecânico e um italiano típico. Um dos causos mais engraçados é quando Zélia conta que seu pai – que era responsável por registrar os filhos no cartório – às vezes, mudava os nomes por conta própria. O nome dos filhos tão bem pensados e definidos pela mãe eram alterados de última hora pelo pai que tinha um lampejo de inspiração e decidia o novo nome. Caso típico: quando o primeiro filho nasceu, a mãe escolheu o nome Elson. Na hora de registrar o filho, o sr. Ernesto decidiu que Elson não era nome de homem o suficiente e mudou para Mário. A mãe odiou, mas já estava feito.
Me diverti com essas histórias porque meu avô fez o mesmo com a minha mãe – que reclama até hoje do nome (algo que entretém muito o resto da família).
A parte mais interessante do livro todo para mim, no entanto, é a história da Colônia Cecília (uma colônia onde foi criada uma sociedade anarquista experimental). Há algum tempo me interesso pelo assunto, mas ainda estou apenas começando a ler mais sobre. Zélia Gattai nos conta a história de seu avô – anarquista fervoroso que ficou entusiasmado com o experimento da Colônia nesse país tão distante da Itália, mas que prometia muito. Fato interessante número 1: o terreno para a Colônia foi cedido por D.Pedro II – um imperador que tinha um viés republicano à frente da época. D. Pedro II prometeu, também, apoio financeiro ao empreendimento. Fato interessante número 2: o avô de Zélia foi um dos primeiros voluntários a esse experimento. Fez as malas com a esposa e os cinco filhos e embarcou para o Brasil para viver a experiência de uma comunidade que acreditava que poderia ser mais justa e igualitária