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SÃO PAULO - Depois de ser puxado por encomendas de frotistas e pelo aumento das exportações, os consumidores começam a voltar às concessionárias, sustentando a recuperação das vendas da indústria automobilística, que estão em trajetória ascendente desde maio. Somente nos primeiros 14 dias de setembro, a média diária de veículos (automóveis e comerciais leves) vendidos no país chegou a 8.842 unidades, número 25,2% maior que o do mesmo período de 2016. Desde janeiro, as vendas diárias crescem 6,7%, na média.
Um dos termômetros do nível de atividade na economia, pela extensão de sua cadeia produtiva, o setor automotivo já trabalha com a perspectiva de um aumento de 25,2% na produção este ano e, aos poucos, volta a contratar pessoal para reforçar as linhas de produção. Só nos primeiros 15 dias deste mês, duas montadoras, GM e MAN Caminhões, anunciaram a contratação de mil trabalhadores.
No caso da GM, o reforço de 700 novos funcionários para o terceiro turno, que será retomado em dezembro na fábrica de Gravataí (RS), deve acarretar a contratação de outros mil nas fornecedoras de peças instaladas no mesmo complexo industrial. Na fábrica da Volvo, em Curitiba, cem trabalhadores que tinham sido desligados no ano passado foram recontratados.
-- Os empregos vêm retomando, ainda com crescimento baixo mas com tendência de recuperação. Diminuiu o número de pessoas em layoff (com contrato suspenso) e PSE (Programa de Seguro Emprego). Em julho, havia 12.198 pessoas nesses programas, e, em agosto, esse número caiu para 6.320. Além do retorno dessas pessoas ao trabalho, algumas empresas já estão aumentando a jornada de trabalho em suas unidades -- comentou Antonio Megale, presidente da Anfavea, associação que reúne as montadoras no país, na apresentação dos números do setor.
Outro indicador da Anfavea reforça os sinais de mudança na dinâmica do setor: enquanto até março os licenciamentos cresciam somente em três estados da federação (Minas Gerais, Alagoas e Roraima) em relação a 2016, em agosto as vendas avançaram em 22 estados na comparação com o ano passado.
Os ventos mais favoráveis no mercado de veículos fez a Anfavea elevar suas projeções para este ano: as expectativas de vendas no mercado doméstico, que inicialmente cresceriam 4%, devem avançar 7,4%, ao passo que a expectativa para a produção agora aponta salto de 25,2%.
Com as montadoras voltando a respirar, depois de verem a produção retroceder mais de uma década em três anos -- em 2016 foram produzidos no país 2,15 milhões de veículos, pouco mais que os 2,12 milhões de 2004 --, os fabricantes de autopeças também começam a recuperar a produção perdida, reforçando gradualmente seus quadros de pessoal.
Para atender às encomendas das montadoras, o Sindipeças, sindicato das fabricantes de peças, estimava a necessidade de um aumento de 1,5% no nível de emprego nas empresas associadas, alcançando 164,6 mil postos de trabalho. E a tendência positiva deve permanecer em 2018. Para a entidade, no próximo ano, o nível de emprego no setor deve voltar ao patamar de 2015, com 173 mil trabalhadores ocupados nas indústrias de autopeças.
Raphael Galante, consultor na Oikonomia Consultoria Econômica, observa que o grosso do crescimento das vendas de veículos neste ano ainda está vinculado aos negócios feitos com grandes compradores (frotistas e locadoras de veículos), mas, aos poucos, as vendas a pessoas físicas começam a mostrar uma reação.
-- O mercado vai crescer neste ano devido às compras das pessoas jurídicas, de locadoras e de frotistas, mas a queda no caso das pessoas físicas já é menor. Isso é uma tendência de melhora, e, no ano que vem, esse segmento deve apresentar algum crescimento, já que os bancos estão voltando a conceder crédito, e os prazos dos financiamentos vêm crescendo -- disse.
Segundo Galante, essa demora na retomada da volta dos consumidores às concessionárias ocorre porque há uma defasagem até que a inflação menor e a queda da Taxa Selic se materialize nas contas das famílias. Além disso, observa, o desemprego ainda está em patamares elevados. Enquanto essa volta do consumo da pessoa física se dá mais lentamente, as montadoras continuam incentivando as vendas diretas para locadoras, frotistas e outras pessoas jurídicas.
-- Quando se olham os dados de emplacamentos, vemos que há um grande número em Belo Horizonte, que é sede de algumas das maiores locadoras de veículos do país. A capital mineira é a cidade em que mais se compra carro zero no Brasil, embora não tenha a maior frota -- explicou Galante.
Antonio Jorge Martins, coordenador de curso de cadeia automotiva da FGV, também acredita que o crescimento do mercado será sustentado pelas compras das empresas:
-- Haverá uma reversão na curva, em função da venda direta. Mas não existe uma segurança de que esse crescimento vai se sustentar no próximo ano.