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A partilha do Oriente Médio
Petróleo: questão central
Em 1918, o petróleo torna-se a questão central. Segundo o acordo, estaria sob controle francês a região de Mossul, onde se encontram importantes reservas em potencial, mas são os britânicos que detêm os direitos de concessão. Georges Clemenceau tenta atender ao grupo de pressão colonial limitando-se a uma “Síria útil” – que, embora não abrangendo a Terra Santa, permite o acesso às jazidas de petróleo. Uma extensão territorial demasiado grande implicaria pesados ônus administrativos, desproporcionais às receitas que dali pudessem ser tiradas. Representaria o abandono do projeto de uma “Síria integral” (que atualmente poderia ser chamada “Grande Síria”). Logo após o armistício, Clemenceau negociaria com Lloyd George – em conversas diretas e sem testemunhas – a partilha do Oriente Médio.
Maurice Hankey, secretário do governo britânico, anotou em seu diário, no dia 11 de dezembro de 1920: “Clemenceau e Foch atravessaram [o Canal da Mancha] após o armistício e tiveram uma grande recepção militar e pública. Lloyd George e Clemenceau foram conduzidos à embaixada da França... Quando ficaram a sós... Clemeceau disse: ‘Bom, e o que deveremos discutir?’ ‘A Mesopotâmia e a Palestina’, respondeu Lloyd George. ‘Diga-me o que vocês desejam’, disse Clemenceau. ‘Quero Mossul’, disse Lloyd George. ‘Você o terá’, respondeu Clemenceau, acrescentando: ‘Só isso?’ ‘Não, também quero Jerusalém’, cotinuou Lloyd George. ‘Você o terá’, disse Clemenceau “mas Pichon5 irá criar dificuldades em relação a Mossul.’ Não existe qualquer anotação escrita a respeito dessa conversa. [...] No entanto, apesar das pressões que sofreu por parte de seus colegas e de todos os interessados, Clemenceau, que sempre foi inflexível, jamais voltou atrás em sua palavra – e, devido à posição em que estou, posso dizer que Lloyd George também nunca deu margem a que isso acontecesse. É assim que se escreve a história6.”
“Mandatos” da Liga das Nações
Quando o nacionalismo árabe voltou fortalecido, não reconheceu a legitimidade daquela divisão e reivindicou a constituição de um Estado unitário
Como os franceses haviam condicionado qualquer acordo territorial a uma partilha do acesso ao petróleo, as duas negociações se encaminhariam paralelamente. Desde o início da Conferência de Paz, o presidente Wilson rejeitou a anexação das antigas colônias alemãs na África e no Pacífico pelos impérios francês e britânico: queria colocá-los sob a tutela da futura Liga das Nações. Com habilidade, Lloyd George manobrou, apresentando a proposta de “mandatos” da Liga das Nações que seriam confiados, a título provisório, a uma potência “civilizada” encarregada de os conduzir à independência. Discretamente, introduziu as províncias árabes do império otomano (os chamados “Mandatos A”). Em janeiro de 1919, Wilson aceitou.
Os principais interessados não foram informados e apenas foram convocados a comparecer perante o Conselho Supremo das Forças Aliadas (o chamado Conselho dos Dez). Portanto, em fevereiro de 1919, nacionalistas árabes, pró-franceses (sirianistas) e sionistas (os ingleses interceptaram uma delegação libanesa, proibindo-a de viajar para a França) participariam de uma conversa da qual, na realidade, desconheciam as regras do jogo. Lloyd George permitiu que seus representantes empreendessem uma queda de braço com os franceses. A questão era a de saber se existiria um único mandato para todo o Oriente Médio (que seria certamente confiado aos ingleses) ou se haveria dois mandatos – um francês e outro britânico. Os franceses resistiram.
Rejeição palestina ao sionismo
Irritado, Wilson decidiu que seria criada uma comissão encarregada de consultar as populações sobre quem seria a potência mandatária. Subitamente, os ingleses perceberam que os árabes da Palestina e do Iraque poderiam não pedir sua tutela. Os franceses, por sua vez, receavam que os sírios lhes pudessem ser hostis e foram forçados a aceitar a reivindicação de um Estado libanês de maioria cristã. As duas potências européias abandonaram a comissão, que passaria a ser dirigida exclusivamente pelos norte-americanos.
Após ter ouvido os árabes palestinos rejeitarem o sionismo, os libaneses cristãos aceitarem a França e os árabes sírios exigirem a independência, a comissão concluiu, em 28 de agosto de 1919, pela opção de um mandato... norte-americano! Era tarde demais: o Senado norte-americano já rejeitara o Tratado de Versalhes e os norte-americanos se retiraram de todas as conferências interaliados.
Última prova de força
Assim, franceses e ingleses encontram-se novamente frente a frente. A correlação de forças pende em favor dos franceses que, ao contrário dos ingleses – que haviam desmobilizado as tropas –, tinham fortalecido sua presença militar. A divisão em mandatos foi ratificada. Da Conferência de Deauville (setembro de 1919) à de San Remo (abril de 1920), ocorrem apenas ligeiros ajustes na linha
Petróleo: questão central
Em 1918, o petróleo torna-se a questão central. Segundo o acordo, estaria sob controle francês a região de Mossul, onde se encontram importantes reservas em potencial, mas são os britânicos que detêm os direitos de concessão. Georges Clemenceau tenta atender ao grupo de pressão colonial limitando-se a uma “Síria útil” – que, embora não abrangendo a Terra Santa, permite o acesso às jazidas de petróleo. Uma extensão territorial demasiado grande implicaria pesados ônus administrativos, desproporcionais às receitas que dali pudessem ser tiradas. Representaria o abandono do projeto de uma “Síria integral” (que atualmente poderia ser chamada “Grande Síria”). Logo após o armistício, Clemenceau negociaria com Lloyd George – em conversas diretas e sem testemunhas – a partilha do Oriente Médio.
Maurice Hankey, secretário do governo britânico, anotou em seu diário, no dia 11 de dezembro de 1920: “Clemenceau e Foch atravessaram [o Canal da Mancha] após o armistício e tiveram uma grande recepção militar e pública. Lloyd George e Clemenceau foram conduzidos à embaixada da França... Quando ficaram a sós... Clemeceau disse: ‘Bom, e o que deveremos discutir?’ ‘A Mesopotâmia e a Palestina’, respondeu Lloyd George. ‘Diga-me o que vocês desejam’, disse Clemenceau. ‘Quero Mossul’, disse Lloyd George. ‘Você o terá’, respondeu Clemenceau, acrescentando: ‘Só isso?’ ‘Não, também quero Jerusalém’, cotinuou Lloyd George. ‘Você o terá’, disse Clemenceau “mas Pichon5 irá criar dificuldades em relação a Mossul.’ Não existe qualquer anotação escrita a respeito dessa conversa. [...] No entanto, apesar das pressões que sofreu por parte de seus colegas e de todos os interessados, Clemenceau, que sempre foi inflexível, jamais voltou atrás em sua palavra – e, devido à posição em que estou, posso dizer que Lloyd George também nunca deu margem a que isso acontecesse. É assim que se escreve a história6.”
“Mandatos” da Liga das Nações
Quando o nacionalismo árabe voltou fortalecido, não reconheceu a legitimidade daquela divisão e reivindicou a constituição de um Estado unitário
Como os franceses haviam condicionado qualquer acordo territorial a uma partilha do acesso ao petróleo, as duas negociações se encaminhariam paralelamente. Desde o início da Conferência de Paz, o presidente Wilson rejeitou a anexação das antigas colônias alemãs na África e no Pacífico pelos impérios francês e britânico: queria colocá-los sob a tutela da futura Liga das Nações. Com habilidade, Lloyd George manobrou, apresentando a proposta de “mandatos” da Liga das Nações que seriam confiados, a título provisório, a uma potência “civilizada” encarregada de os conduzir à independência. Discretamente, introduziu as províncias árabes do império otomano (os chamados “Mandatos A”). Em janeiro de 1919, Wilson aceitou.
Os principais interessados não foram informados e apenas foram convocados a comparecer perante o Conselho Supremo das Forças Aliadas (o chamado Conselho dos Dez). Portanto, em fevereiro de 1919, nacionalistas árabes, pró-franceses (sirianistas) e sionistas (os ingleses interceptaram uma delegação libanesa, proibindo-a de viajar para a França) participariam de uma conversa da qual, na realidade, desconheciam as regras do jogo. Lloyd George permitiu que seus representantes empreendessem uma queda de braço com os franceses. A questão era a de saber se existiria um único mandato para todo o Oriente Médio (que seria certamente confiado aos ingleses) ou se haveria dois mandatos – um francês e outro britânico. Os franceses resistiram.
Rejeição palestina ao sionismo
Irritado, Wilson decidiu que seria criada uma comissão encarregada de consultar as populações sobre quem seria a potência mandatária. Subitamente, os ingleses perceberam que os árabes da Palestina e do Iraque poderiam não pedir sua tutela. Os franceses, por sua vez, receavam que os sírios lhes pudessem ser hostis e foram forçados a aceitar a reivindicação de um Estado libanês de maioria cristã. As duas potências européias abandonaram a comissão, que passaria a ser dirigida exclusivamente pelos norte-americanos.
Após ter ouvido os árabes palestinos rejeitarem o sionismo, os libaneses cristãos aceitarem a França e os árabes sírios exigirem a independência, a comissão concluiu, em 28 de agosto de 1919, pela opção de um mandato... norte-americano! Era tarde demais: o Senado norte-americano já rejeitara o Tratado de Versalhes e os norte-americanos se retiraram de todas as conferências interaliados.
Última prova de força
Assim, franceses e ingleses encontram-se novamente frente a frente. A correlação de forças pende em favor dos franceses que, ao contrário dos ingleses – que haviam desmobilizado as tropas –, tinham fortalecido sua presença militar. A divisão em mandatos foi ratificada. Da Conferência de Deauville (setembro de 1919) à de San Remo (abril de 1920), ocorrem apenas ligeiros ajustes na linha
Anônimo:
nada
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