Observe a seguinte foto.
Essas duas estátuas representam bandeirantes paulistas do século XVII e trazem conteúdos de uma mitologia criada em torno desses personagens históricos.
a) Caracterize a mitologia construída em torno dos bandeirantes paulistas.
b) Indique dois aspectos da atuação dos bandeirantes que, em geral, são omitidos por essa mitologia.
Respostas
a) Foi a partir de 1932 que os bandeirantes “ganharam” uma imagem mais militarizada e foram intitulados “heróis” dentro do contexto da Revolução Constitucionalista de São Paulo contra o governo provisório de Getúlio Vargas, também conhecida como “Guerra Paulista”.
Na época, estabelecer uma identificação positiva entre a população paulista e sua história, através da figura do bandeirante, era uma necessidade premente para sustentar a oposição ao governo de Vargas.
b) Dois importantes aspectos sobre a atuação dos bandeirantes são, no entanto, evitados a fim de manter o mito sobre os mesmos. Um dos aspectos era a vida difícil e precária com que os paulistas bandeirantes enfrentavam diariamente.
Também se evitam os comentários acerca de sua atuação bárbara, desumana e atroz na destruição das missões jesuíticas, culminando em um número elevado de mortes. Sua brutalidade foi imensurável na captura de de milhares de índios, bem como no extermínio do Quilombo dos Palmares.
a) A historiografia tradicional – principalmente paulista – retrata os bandeirantes como heróis, responsáveis por grandes façanhas, tanto no que se refere à conquista e à ocupação de novos territórios como à descoberta de pedras e metais preciosos, sempre enfrentando e superando as adversidades naturais, doenças tropicais e os ataques indígenas. Teriam contribuíram dessa forma para o alargamento do território e para o enriquecimento do Brasil. Apesar de ser um elemento da sociedade colonial, tal mito foi construído no século XX, em 1932, quando da Revolução Constitucionalista contra o governo Vargas, movimento que procurou congregar “os paulistas”, independentemente de condição socioeconômica ou de opção política, em uma grande aliança contra o governo federal, e que buscou fortalecer o “sentimento regionalista”, do “povo paulista”.
b) A construção do mito implica na exaltação de aspectos vistos como positivos e carecem de uma análise mais aprofundada do papel desenvolvido pelo elemento mitificado. No caso dos bandeirantes, a historiografia tradicional omite o confronto com índios e jesuítas, com ataques às missões e a captura dos nativos para escravizá-los ou vendê-los como escravos. Omite ainda a ação de alguns bandeirantes na liderança dos movimentos que se enfrentavam e a destruição dos quilombos, a mando de grandes proprietários rurais e dos governantes.