• Matéria: Filosofia
  • Autor: sofiasantos81
  • Perguntado 8 anos atrás

Por favor mim ajudem!
É pra fala sobre o que a pessoa entendeu sobre isso aí abaixo
Mim ajudem!!

Anexos:

Respostas

respondido por: joelcarlosn1
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Fernando Pessoa inicia o poema assumindo que é um homem (e um poeta) racional. Ou seja, que a sua vida se guia pela razão e não pela emoção. Pessoa transforma numa hipérbole a sua racionalidade - "não me deram mais guia", mas resumidamente é assim que ele sente ser o seu processo criativo e de compreensão do mundo em seu redor. Simultaneamente ele questiona-se sobre a validade de ser racional: "alumia-me em vão?", pergunta. Não sabe responder, apenas dizer que apenas tem a razão e nada mais.


Tivesse quem criou O mundo desejado Que eu fosse outro que sou, Ter-me-ia outro criado.


Interessante esta espécie de interjeição numa análise racional, sobre ser racional. Afinal Pessoa, um homem racional, é-o porque - nas suas próprias palavras - foi criado assim por uma entidade superior. Esta não é, pelo menos aparentemente, uma afirmação racional. Mas há que compreender que a visão mística de Pessoa incorpora a sua própria racionalidade. Embora fosse variando, Pessoa foi essencialmente um gnóstico - ou seja, acreditava num acesso racional a Deus, através do seu intermediário, o logos Cristo.


Deu-me olhos para ver. Olho, vejo, acredito. Como ousarei dizer: «Cego, fora eu bendito»?


Os olhos, os sentidos são o início da razão, pelo menos nesta análise de Pessoa. Sem os sentidos não haveria compreensão da realidade. Trata-se de uma afirmação filosófica pura, quase cartesiana.


Como olhar, a razão Deus me deu, para ver Para além da visão — Olhar de conhecer.


Afinal Pessoa aborda os sentidos para os encarar na normalidade de os possuir. Ele usa a razão por que lhe foi dada, assim como os sentidos. É apenas natural que ele pense, porque é natural também ver. Para Pessoa pensar é tão natural como ver. Afinal a razão é apenas o "olhar de conhecer".


Se ver é enganar-me, Pensar um descaminho, Não sei. Deus os quis dar-me Por verdade e caminho.


Se a razão o serve mal, Pessoa não se culpa a si mesmo pelo seu uso: foi-lhe dado por um qualquer destino alheio. Ele não sabe se é certo pensar, querer ver, porque é a sua única opção. Foi Deus que decidiu, o mesmo Deus que constrói o seu destino. Esta é a sua realidade e ele não poderá fugir dela na sua vida.

Não nos enganemos porém, seguindo Pessoa à letra. Ele tem em si emoções, destiladas é certo, mas emoções. Encontramo-las sobretudo em Campos, mas também em Bernardo Soares. O que Pessoa fez foi dividir-se também em razão/emoção e não apenas em heterónimos. Nele ser racional foi uma questão de sobrevivência - porque lhe seria demasiado doloroso lidar com a dor simplesmente. Ele usou a inteligência para superar o desespero e a sua poesia quase que se apresenta como um subproduto doloroso deste processo horrível.

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