Respostas
Seja como for, a acomodação neoliberal alterou tanto a ordem social interna dos países, como a autonomia estatal ante o exterior5. Quanto ao primeiro, a supressão do protecionismo, da política industrial e de outras formas de intervencionismo estatal, unida às privatizações e à abertura de fronteiras, alterou radicalmente a distribuição de ingressos, as oportunidades de progresso e a própria estratificação social. Da estratégia do crescimento interno, passou-se a postular as exportações como via de progresso, a estabilidade dos preços e orçamentos e preencheu o lugar ocupado anteriormente pelas metas de geração de emprego; o Estado cedeu o comando ao mercado para fixar a direção e os resultados do manejo socioeconômico.
No domínio da política, as mudanças foram igualmente pronunciadas: o nacionalismo é substituído por uma espécie de cosmopolitismo mal interpretado; se dissolvem as soberanias dos Estados e as entidades nacionais; o presidencialismo autoritário e o corporativismo são substituídos por um regime de divisão de poderes, jogo de partidos e sistemas eleitorais mais transparentes. Como consequência, muito mudaram os valores, os interesses, as instituições, a composição das elites e sem dúvida a distribuição de ingressos.
Com relação a segunda vertente, a abertura de fronteiras e a supressão de travas no investimento estrangeiro mudaram radicalmente as liberdades nacionais ante o exterior. Antes, o ajuste das contas externas cuidava do crescimento e do emprego interno, restringido (quando necessário) as importações, a fim de acentuar as medidas protecionistas; hoje, os desajustes se corrigem, comprimido também as importações, mas através de um mecanismo radicalmente distinto: o de abater o crescimento e o emprego, ou o de acrescentar a dependência com respeito ao investimento estrangeiro6. De outra forma, se reinstalam os mecanismos superados pela acomodação do padrão ouro7.
Além disso, por si mesmos, os mercados não distribuem com mediana equidade os frutos das redes produtivas e comerciais do mundo. Existem grupos de empresas e países altamente favorecidos, incluindo nações em desenvolvimento, que convivem com outras empobrecidas e atrasadas8. A inserção de Taiwan, Coreia, Vietnã, Irlanda e Finlândia na globalização tem resultado extraordinariamente exitoso. A lição a depreender dessas experiências é complexa. De um lado, que a globalização e neoliberalismo (por mais que tenham ido juntos) não são a mesma coisa e, de outro, que não refletem respostas nacionais idênticas. Portanto, encarar a globalização pode ser feito de diferentes maneiras, por exemplo, com maior ou menor intervenção governamental, ou deixando tudo, passivamente, às reações espontâneas do mercado. Na América Latina, o insuficiente ativismo exportador marca o retorno à velha especialização na venda de artigos primários - produtos agropecuários, minerais, energéticos, máquinas simples -, enquanto se perde terreno e competitividade, na colocação de manufaturas ou serviços, onde se encontra um avanço tecnológico de caráter mundial...