• Matéria: Português
  • Autor: gfcsouza9
  • Perguntado 8 anos atrás

Levante uma hipótese sobre qual seria o motivo das mudanças no cotidiano da família.Justifique sua resposta com elementos do texto



Ainda me lembro do dia em que ela chegou lá em casa. Tão pequenininha! Foi uma festa. Botamos ela num quartinho dos fundos. Nosso filho – naquele tempo só tinha o mais velho – ficou maravilhado com ela. Era um custo tirá-lo da frente dela para ir dormir. Combinamos que ele só poderia ir para o quarto dos fundos depois de fazer todas as lições.

Eu não ligava muito para ela. Só para ver um futebol ou política. Naquele tempo, tinha política. Minha mulher também não via muito. Um programa humorístico, de vez em quando. (...)

Depois decidimos que ela podia ficar na copa. Aí ela já estava mais crescidinha. Jantávamos com ela ligada, porque tinha um programa que o garoto não queria perder. Capitão Qualquer Coisa. A empregada também gostava de dar uma espiada. (...)

Minha mulher nem sonhava em botar ela na sala. Arruinaria toda a decoração. Nessa época já tinha nascido o nosso segundo filho e ele só ficava quieto, para comer, com ela ligada. Quer dizer, aos pouco ela foi afetando os hábitos da casa. E então surgiu um personagem novo nas nossas casas que iria mudar tudo. Sabe quem foi? O Sheik de Agadir. Eu, se quisesse, poderia processar o Sheik de Agadir. Ele arruinou o meu lar. (...) Minha mulher estava sucumbindo depois do Sheik de Agadir, não queria perder nenhuma novela. (...)

Nosso filho menor, o que nasceu depois do Sheik de Agadir, não saía de frente dela. Foi praticamente criado por ela. É mais apegado à ela do que a própria mãe. Quando a mãe briga com ele, ele corre pra perto dela pra se proteger. (...) Ninguém mais conversava dentro de casa. Todo mundo de olho grudado nela. E então aconteceu outra coisa fatal. Se arrependimento matasse…

Foi a copa do mundo. A de 74. Decidi que para as transmissões da copa do mundo ela deveria ser bem maior. E colorida. Foi a minha ruína. Perdemos a copa, mas ela continua lá, no meio da sala. Gigantesca. É o móvel mais importante da casa. Minha mulher mudou a decoração da casa para combinar com ela. Antigamente ela ficava na copa para acompanhar o jantar. Agora todos jantam na sala para acompanhá-la.

E, então, aconteceu o pior. Foi ontem, hora do Dancin´Days e bateram na porta. Visitas. Ninguém se mexeu. Falei para a empregada abrir a porta, mas ela fez “Shhh!” sem tirar os olhos da novela. Mandei os filhos, um por um, abrirem a porta, mas eles nem me responderam. Comecei a me levantar. E então todos pularam em cima de mim. Sentaram no meu peito. Quando comecei a protestar, abafaram o meu rosto com a almofada cor de tijolo que minha mulher comprou para combinar com a maquiagem da Júlia. Só na hora do comercial, consegui recuperar o ar e aí sentenciei, apontando para ela ali, impávida no meio da sala: “Ou ela, ou eu!”. O silêncio foi terrível. (...) Agora estou proibido de voltar lá.

urgentee!!!

Respostas

respondido por: Liziamarcia
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O motivo das mudanças do cotidiano da família foi a compra de uma Televisão .Ela passou ao longo de sua história como um mero objeto tecnológico , um previlegio de poucos , e a uma peça dispensavel aos lares e as famílias brasileiras .
O texto mostra no início o papel da TV nas casas , não tinha destQue , era um mero enfeite no quartinho dos fundos da casa .

"quando ela chegou em casa , nós a colocamos no quartinho dos fundos ".....

Com o passar do tempo a TV passa a assumir seu novo lugar na família :
..."decidimos que ela podia ficaram copa ....jantávamos com ela ligada ...."

Na copa do mundo a TV ,ganhou um lugar de destaque na sala da casa, passou a ser a " baba" ds crianças da família , e a família passou a almoçar e jantar com ela .

".... agora todos jantam na sala para acompanhá-la ..."

..."Agora a TV domina todos na família , a empregada ,os filhos , o marido , a esposa , é só os liberta durante o comercial ,
"Só na hora do comercial, consegui recuperar o ar e aí sentenciei, apontando para ela ali, impávida no meio da sala: “Ou ela, ou eu!”. O silêncio foi terrível. (...) Agora estou proibido de voltar lá....(...)
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