• Matéria: Português
  • Autor: wallysonsousa6202
  • Perguntado 8 anos atrás

Era realmente bonita a Farmácia belle époque, vista assim sem ninguém, gratuita. Ramiro, como ia explicando, tinha modernizado o estabelecimento com novidades úteis mas sem tocar nas graciosas velharias. — Olhe, por exemplo essas duas botelhaças com seus líquidos corados — disse Ramiro. — Fascinantes — disse Nando. — Sempre tive vontade de saber o que é que há dentro delas. — Nando — disse Vanda — padre ou não padre você hoje também vai tomar um pouco de uísque. Essas dissertações de tio Ramiro fazem qualquer um adoecer, sem um antídoto. [...] Vanda tinha tomado o frasco da mão de Nando, molhado seu pequeno lenço, colocado o frasco na mesa e passado o lenço a Nando. Como quem não quer nada, Nando aspirou fundo. Alternando lenço e uísque, Ramiro abriu um dos armários de vidro. — Aqui estão os produtos dos laboratórios franceses, quase que os únicos que o Brasil conhecia para suas bem-amadas doenças. Repare como os nomes são mais nossos, mais íntimos: pílulas de Blancard, xarope de ergotinina de Tanret, 14 rue d’Alger, Paris, glicerina creosotada de Catillon. Moléstias nervosas? cloral bromuré Dubois. Moléstias do peito? elixir alimentício Ducro. Asma? coaltar saponine le beuf. O Falua delirou com esses compostos de éter: licor de Hoffmann, vinho etéreo de Petit, de éter e málaga. Enxaqueca, nevralgias? cerebrina de Eugène Fournier, 21 rue de Saint-Petersbourg. Tumores, impingens? sabão anti-séptico de J. Lieutaud, Ainé, Marselha. Quando me aperta muito a saudade dos tempos em que vigoravam estes remédios, muitos chegados a meu pai como échantillons sans valeur, ainda procuro algum bem conservado e tomo. Vandinha, pare um pouco com esse éter senão daqui a pouco você está roncando. CALLADO, Antônio. Quarup. 1. ed. especial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. p. 119; 123; 126; 127. Sobre o fragmento, contextualizado na obra, é correto afirmar: (01) Ramiro é defensor da cultura europeia e partidário do afrancesamento do Brasil. (02) A fala de Vanda remete à tensão entre a formação teológica de Nando e as demandas do mundo social. (04) O fragmento revela o caráter crítico implícito na obra, quando expõe o pensamento de Ramiro em relação a tempo-memória-história. (08) O teor da tese sociológica defendida por Ramiro constitui uma contraposição à tese defendida por Fontoura na obra. (16) A performance de Nando, ao experimentar o “éter”, leva-o ao mundo da reflexão, o que acentua o seu descrédito no ser humano. (32) Ramiro, Nando e Vanda constituem o grupo que defende uma proposta de civilização para o país, voltada para a preservação de valores cristãos.

Respostas

respondido por: waltercaminha
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Olá, tudo bem? Vou te ajudar nessa questão:

Vamos analisar as afirmativas e somar os pontos das verdadeiras.

(01) Verdadeira. Podemos perceber na narrativa o apreço de Ramiro pela Europa.

(02) Verdadeira. A personagem justifica que, independente do sacerdócio, Nando precisaria beber para aturar Ramiro.

(04) Verdadeira. Ramiro demonstra valorizar muito a memória e o passado.

(08) Verdadeira. Fontoura e Ramiro defendem abordagens diferentes em relação à questão indígena.

(16) Falsa. O uso do "éter" transforma sua visão de mundo, levando-o a juntar-se à luta armada.

(32) Falsa. Os personagens tem propostas diferentes para o país, desde a cura das doenças dos índios com fármacos até a luta armada.

Logo, a resposta correta é 01 + 02 + 04 + 08 = 15.
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