• Matéria: Português
  • Autor: lucianorodrigue5689
  • Perguntado 8 anos atrás

— Entende agora por que viemos aqui? Para você ver que em Tizangara não há dois mundos. Ele que visse, por si, os vivos e os mortos partilharem da mesma casa. Como Hortência e seu sobrinho. E pensasse nisso quando procurasse os seus mortos. — Por isso eu lhe pergunto, Massimo: qual vila o senhor está visitando? — Como assim, qual vila? — É porque aqui temos três vilas com seus respectivos nomes — Tizangara-terra, Tizangara-céu, Tizangara-água. Eu conheço as três. E só eu amo todas elas. Sorri. Agora, quem carecia de tradução era eu. Nunca escutara Temporina tão acrescida de belezas. Ou ela se enfeitava, especial, para o visitante? Desconfiado, me retirei, pé-ante-pé, escadas afora. Deixei os dois na varanda e fiquei no pátio, a respeitosa distância. De longe, ainda vi como Temporina se sentava no colo do italiano e como seus corpos se enleavam. De súbito, o rosto dela se colocou em luz e eu me espantei: em flagrante de amor Temporina juvenescia. Toda ela era sem ruga, sem cicatriz do tempo. E recuei meus olhos, recolhi meu enleio. O italiano havia de descer e eu retomaria meus serviços. Agora, por certo, ele não carecia de tradutor. Na espera, adormeci. No dia seguinte, quando despertei já o italiano se passeava pelo quintal. Temporina falava para ele: — Andei olhando você. Desculpa, Massimo, mas você não sabe andar. — Como não sei andar? — Não sabe pisar. Não sabe andar neste chão. Venha aqui: lhe vou ensinar a caminhar. Ele riu, acreditando ser brincadeira. Porém, ela, grave, advertiu: — Falo sério: saber pisar neste chão é assunto de vida ou morte. Venha, que eu lhe ensino. O italiano cedeu. Aproximaram-se e sustiveram-se mãos nas mãos. [...] COUTO, Mia. O último voo do flamingo. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. p. 67-68. O fragmento e/ou o romance revelam (01) os vivos unidos aos mortos e, através desses, a força da tradição é transmitida. (02) relatos, confissões e depoimentos do narrador Massimo sobre o passado de Moçambique. (04) a personagem Temporina, no convívio com o tradutor e com o italiano, ensinando-lhes os valores tradicionais da terra, passados pelos mortos e pelos vivos. (08) a obra inteira perpassada por elementos de uma realidade fantástica que se contrapõe ao realismo literário. (16) uma ambiguidade da narrativa no fragmento destacado, o que constitui uma exceção no romance como um todo. (32) uma visão da cultura africana, que tem em Hortência e Temporina duas representações.

Respostas

respondido por: waltercaminha
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Olá, tudo bem? Vou te ajudar nessa questão:

Vamos analisar as afirmativas e somar os pontos das verdadeiras.

(01) Verdadeira. No primeiro parágrafo podemos perceber a união de vivos e mortos.

(02) Falsa. O narrador é o tradutor que acompanha Massimo em inspeção da ONU em Moçambique.

(04) Verdadeira. A personagem Temporina passa aos outros personagens as tradições da terra.

(08) Verdadeira. Podemos perceber que os elementos fantásticos da obra contribuem para a construção da narrativa.

(16) Falsa. O romance apresenta várias ambiguidades que contribuem para a construção da narrativa.

(32) Verdadeira. Podemos perceber nestas duas personagems visões da cultura africana.

Logo, a resposta correta é 01 + 04 + 08 + 32 = 45.
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