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Rodrigo Lima
Um dos principais pensadores sociais do século XX, o estadunidense Wright Mills procurou expor a relação do homem com o seu cotidiano e com as transformações históricas de seu tempo. Para o autor é possível visualizarmos a dificuldade dos homens e mulheres contemporâneos em estabelecerem um paralelo entre a sua biografia e a história, entre o seu eu e o mundo. Dentro desta conjuntura, digamos crítica, o homem está exposto como nunca a transformações históricas rápidas e concretas, onde ele é afetado não mais por sua realidade local, mas sim mundial.
Afetado por estas transformações de difícil compreensão, os homens e mulheres não necessitam apenas de informação e da habilidade da razão para entenderem o que se passa, mas sim de uma qualidade de espírito que os auxilie a usar a informação e a desenvolver a razão para compreender o que os cerca e a sua realidade pessoal. E é esta qualidade de espírito que vem a ser a imaginação sociológica.
E a imaginação sociológica vai possibilitar que os homens e mulheres compreendam o cenário histórico no qual estão inseridos tanto individual quanto coletivamente. Para tanto o individuo tem de compreender a sua existência localizada em um determinado período histórico. E é através da imaginação sociológica que o homem vai entender o que está acontecendo no mundo e com os homens.
São dois os pilares básicos onde se assenta a imaginação sociológica. O primeiro se relaciona às perturbações dos indivíduos no seu cotidiano e o segundo parte das questões públicas existentes na sociedade. A imaginação sociológica se caracteriza também por ter uma importância na formação da ideia da estrutura social e da sua utilização na ligação de diversas micro realidades.
Para Mills, nossa época é, o período da inquietação e da indiferença, ou seja, é o sentimento da ameaça aliado a falta de consciência sobre os valores socialmente aceitos. Ele aponta como “o principal inimigo do homem” as forças desregradas da própria sociedade contemporânea e suas mazelas. E o que o cientista social tem a ver com tudo isto? É ele quem tem a tarefa de deixar claro os elementos que vem inquietando e fazendo com que os homens fiquem indiferentes.
Ao constatar que cada período histórico tem o seu estilo de pensamento que acaba predominando, o autor propõe a imaginação sociológica como o denominador de nossa vida cultural atual. Em contraponto ele apresenta as ciências físicas e sua perda de credibilidade. A visão que os homens fazem da ciência está muito mais ligada a um grupo de máquinas operadas por técnicos e controladas por poderosos do que a um elemento moral criador e a uma nova forma de orientação.
Neste estado de crise em que se encontra a sociedade os cientistas sociais acabam sendo afetados, ao buscarem sentidos para as suas pesquisas os mesmos acabam agindo de forma apreensiva, e os seus trabalhos se apresentam de maneira medíocre. Para reverter esta situação o autor propõe que as ciências sociais não sejam um corpo de técnicas burocráticas que inibem, obscurecem e vulgarizam a pesquisa social e não tem ligação com as questões de relevância pública.
Segundo Mills os cientistas sociais passam por uma oportunidade singular e é nessa oportunidade que está revelada a promessa intelectual das ciências sociais, os usos da imaginação sociológica e o sentido político dos estudos do homem e da sociedade.
Por fim, as promessas sociológicas devem ser compreendidas a partir de três direções que apontam no sentido de uma teoria da história; no sentido de uma teoria sistemática “da natureza do homem e da sociedade”; e no sentido de estudos empíricos dos fatos e problemas sociais contemporâneos.
MILLS, C. Wright. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro, Ed. Zahar, 1975.