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os militares chegaram ao poder sem saber direito o que fazer. Alcançado o objetivo principal, que era afastar João Goulart e seus amigos, a prioridade dos golpistas passou a ser promover uma limpeza nas instituições, para expurgar comunistas e outros adversários de quartéis e repartições públicas e do Congresso.
Quem começou a dar ordens foi o general Arthur da Costa e Silva. Chefe de um departamento inexpressivo e sem tropas, ele se autonomeou comandante-em-chefe do Exército no dia 1º de abril e assumiu a frente do Comando Supremo da Revolução, que também incluía um representante da Marinha e um da Aeronáutica. A junta baixou um ato institucional que deu aos militares poderes excepcionais para perseguir seus inimigos e convocou o Congresso Nacional a se reunir em dois dias para eleger um novo presidente que concluísse o mandato de Jango.
PODERES EXCEPCIONAISAtos institucionais deram aos governos militares poderes para perseguir opositoresAI-19 de abril de 1964Convocou o Congresso a se reunir em dois dias para escolher o presidente da República, em eleição indiretaDeu ao novo presidente, durante 60 dias, poderes para cassar mandatos legislativos e suspender direitos políticos por dez anosDurante seis meses, funcionários públicos e militares puderam ser demitidos, aposentados, reformados ou transferidos para a reserva por decreto, após investigação sumáriaNas duas primeiras semanas depois do golpe, a junta liderada por Costa e Silva cassou o mandato de 40 membros do Congresso Nacional, suspendendo seus direitos políticos por dez anos, e transferiu 146 militares para a reserva. Outras 87 pessoas tiveram direitos políticos suspensos nesses dias, incluindo Jango e o principal dirigente do PCB, Luís Carlos Prestes. O velho comunista encabeçou a primeira lista de punições, à frente do presidente deposto.
O governador de Pernambuco, Miguel Arraes, principal aliado de Jango no Nordeste, foi deposto por tropas do Exército, que o levaram direto do palácio de governo para a prisão. Milhares de pessoas foram presas em todo o país, de acordo com as estimativas da época. No Recife, um veterano militante comunista, Gregório Bezerra, foi amarrado pelo pescoço, espancado por um coronel do Exército em praça pública e arrastado pelas ruas da cidade até a cadeia.
Castello Branco, o oficial moderado que se juntara aos conspiradores semanas antes do golpe, logo se impôs como favorito para liderar a formação de um novo governo. Dono de grande prestígio nas Forças Armadas e fora dos quartéis, ele era visto como uma opção confiável, que garantiria uma rápida devolução do poder aos civis. Políticos que haviam incentivado o golpe, como Carlos Lacerda e o governador mineiro, Magalhães Pinto, chegaram rapidamente à conclusão de que esse era o caminho mais prudente a seguir.
Castello foi eleito no Congresso no dia 11 de abril, com o apoio das principais lideranças políticas que haviam sobrevivido à primeira onda de cassações. O ex-presidente Juscelino Kubitschek, senador pelo PSD e favorito para as eleições presidenciais de 1965, votou a favor de Castello. O general se reunira com ele e outros caciques do PSD poucos dias antes, quando prometeu manter o calendário eleitoral e transmitir o cargo a quem vencesse as eleições. “Se eu tivesse vetado seu nome, Castello não teria sido eleito”, afirmou Juscelino dez anos mais tarde, numa entrevista ao historiador americano John W. Foster Dulles.
Para Castello, a legitimidade do novo regime dependia da manutenção de uma fachada democrática convincente, em que o Congresso e outras instituições continuassem funcionando. Mas muita gente continuava inquieta nos quartéis. Centenas de inquéritos foram abertos após o golpe, e os coronéis encarregados de conduzi-los achavam que o governo não se empenhava o suficiente para garantir que os inimigos do regime fossem punidos. Queriam que Castello fosse mais duro.