• Matéria: Português
  • Autor: Biscoitalien
  • Perguntado 8 anos atrás

Na letra da canção "Meus doze anos", Chico Buarque parodia o poema "Meus oito anos", isto é, ao dialogar com o texto de Casimiro de Abreu, apresenta ideias diferentes da do autor romântico, provocando humor.

a.) De acordo com a primeira estrofe, a relação do eu lírico com os elementos da natureza é semelhante à que tem o eu lírico do texto romântico? Por quê?

b.) Nesse texto, o eu lírico da canção, tal qual o do poema de Casimiro de Abreu, valoriza a pureza e a ingenuidade? Justifique sua resposta.

c.) Considerando as reflexões que você fez ao londo do estudo comparado dos textos 1 e 2, responda: Quais são as principais diferenças entre os dois textos? Justifique sua resposta.

===TEXTOS===

Texto1- Meus oito anos
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minhã irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus
— Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

Texto2 - Meus doze anos

Ai, que saudades que eu tenho
Dos meus doze anos
Que saudade ingrata
Dar banda por aí
Fazendo grandes planos
E chutando lata
Trocando figurinha
Matando passarinho
Colecionando minhoca
Jogando muito botão
Rodopiando pião
Fazendo troca-troca
Ai, que saudades que eu tenho
Duma travessura
Um futebol de rua
Sair pulando muro
Olhando fechadura
E vendo mulher nua
Comendo fruta no pé
Chupando picolé
Pé-de-moleque, paçoca

Respostas

respondido por: EduardoPLopes
50
Olá, tudo bem?

Comparando a canção "Meus doze anos" e o poema "Meus oito anos", podemos perceber que o eu lírico, a subjevidade protagonista do poema, do poema de Casimiro de Abreu possui uma relação diferente com a natureza. Enquanto em "Meus oito anos" o eu lírico desfruta pacificamente da natureza, em "Meus doze anos" o eu lírico mata passarinhos e menciona poucos elementos naturais e muitos elementos artificiais.

Também há diferença entre a relação do eu lírico do poema de Casimiro de Abreu em relação à canção de Chico Buarque quando pensamos na figura da inocência. São concepções diferentes de inocência - uma, a inocência infantil do romantismo, no outro a inocência típica da juventude - que são apresentadas aqui. Poderíamos dizer que, do ponto de vista do eu lírico do poema de Casimiro de Abreu, o eu lírico da canção não é inocente, pois não corresponde ao ideal romântico de inocência livre das influências da carne - não vê mulher pelada,por exemplo.

Estas são, assim, as principais diferenças entre os dois poemas. São concepções diferentes de inocência e relações diferentes com a natureza. Enquanto é adepto do romantismo em relação à natureza, o outro sente saudades de coisas materiais e tem uma relação pouco próxima com a natureza.

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