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O conhecimento artístico
A Arte é uma forma de conhecimento da realidade, assim como a Filosofia e todas as Ciências. Admirar um templo, um quadro; ler um poema, um romance; assistir a um filme ou peça teatral; ouvir uma sinfonia, uma canção: tudo isso importa em captar uma parcela de sentido do mundo, que cada obra de arte tem dentro de si. Alcançar um saber é a finalidade primordial de qualquer atividade humana. O que diferencia a aprendizagem científica da artística é apenas o meio utilizado: enquanto os vários tipos de conhecimento científico (matemático, físico, químico, biológico, etc.) se servem da observação e da comprovação, as várias formas de arte (literatura, pintura, cinema, teatro, etc.) têm como meio de expressão a fantasia. O que irmana todas as artes é o recurso à ficção. Ficcional, cognato de fictício, pode significar inexistente, falso, mentiroso, além de imaginário, fantasioso. A arte seria, portanto, uma bela mentira, tanto que Fernando Pessoa, usando a figura do paradoxo, peculiar de seu estilo, chama o poeta de “fingidor”, no poema Autopsicografia de seu Cancioneiro. Eis a primeira estrofe, que se tornou famosa:
“O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.”
Só que o conhecimento artístico é falso apenas no plano histórico ou na realidade física: Capitu, a imortal personagem do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, não é um ser existente no plano da realidade material, porque não nasceu da união carnal de um homem e de uma mulher, mas é apenas fruto da fantasia, da inteligência criadora de seu autor. E por ser uma entidade espiritual, ela se tornou imortal, não estando sujeita às leis do tempo e do espaço. Morreu o autor, mas não sua criatura artística. Mas o fato de não ser real não quer dizer que a personagem de ficção não seja verdadeira. Muito pelo contrário: a figura de Capitu é mais autêntica do que qualquer mulher do mundo da realidade.
Explicamos: o ser humano, em carne e ossos, é vítima das normas sociais e dos preconceitos morais. Pelo sentimento do pudor ou por medo de sofrer sanções, a gente acaba ocultando as ideias e os desejos mais recônditos, que contrariam as convenções ético-sociais. Recorremos, portanto, ao uso da máscara psicológica de seres bem-comportados, integrados no convívio social, vivendo de uma forma hipócrita, sem nunca manifestar nossas aspirações mais secretas, que são muitas vezes inconfessáveis. Isso não acontece com o ser ficcional que, por se apenas fruto da fantasia, não está sujeito a apreensões ou ao medo de sofrer penalidades. Tal liberdade faz com que as criações artísticas possam exprimir as verdades mais profundas do ser humano, atingindo o universal, o eterno, o absoluto. Segundo a bela expressão do escritor Franz Kafka,
“a literatura é sempre uma expedição à verdade”.
Outra peculiaridade do conhecimento artístico é sua polissemia, a capacidade de captar múltiplos sentidos ao mesmo tempo ou em espaço e épocas diferentes. Enquanto a verdade científica é unívoca ou monológica, visto que, uma vez descoberto ou comprovado o princípio ou a lei, não se admite mais discussão, pois o fato é ou não é, o conhecimento artístico está centrado no dialogismo, na polifonia, na ambiguidade, podendo atingir a própria contradição: algo pode ser e não ser ao mesmo tempo, dependendo da perspectiva, do ponto de vista do leitor ou do espectador. A obra de arte nunca encerra um único sentido, sendo possíveis várias e diferentes interpretações. Dependendo do grau de cultura e de sensibilidade de quem o admira, o objeto de arte adquire sentidos sempre renovados.
A compreensão da forma e dos conteúdos de uma obra de arte literária ou plástica é inesgotável. Isso explica por que, séculos após séculos, ainda admiramos estátuas gregas, ainda representamos tragédias de Shakespeare, ainda nos encantamos com versos do poeta latino Catulo, ainda discutimos sobre a traição de Capitu e a verdadeira paternidade de seu filho. A história ficcional é ambígua porque na arte não importa a resposta, mas o questionamento, não a verdade fatual, mas a verossimilhança psicológica. Isso porque o ser artístico transcende o padrão individual, buscando alcançar um protótipo universal. Os poemas de Homero para os habitantes da Grécia antiga, assim como as passagens bíblicas para os hebreus, tinham o papel fundamental de ensinar os homens a viver em sociedade. Ainda hoje, apesar da desvirtuação da leitura provocada pelo progresso da televisão, do cinema, da informática, trechos poéticos de Dante, de Shakespeare, de Fernando Pessoa, de Camões, de Machado de Assis, de Carlos Drummond de Andrade continuam exercendo a função de lições de vida.
A Arte é uma forma de conhecimento da realidade, assim como a Filosofia e todas as Ciências. Admirar um templo, um quadro; ler um poema, um romance; assistir a um filme ou peça teatral; ouvir uma sinfonia, uma canção: tudo isso importa em captar uma parcela de sentido do mundo, que cada obra de arte tem dentro de si. Alcançar um saber é a finalidade primordial de qualquer atividade humana. O que diferencia a aprendizagem científica da artística é apenas o meio utilizado: enquanto os vários tipos de conhecimento científico (matemático, físico, químico, biológico, etc.) se servem da observação e da comprovação, as várias formas de arte (literatura, pintura, cinema, teatro, etc.) têm como meio de expressão a fantasia. O que irmana todas as artes é o recurso à ficção. Ficcional, cognato de fictício, pode significar inexistente, falso, mentiroso, além de imaginário, fantasioso. A arte seria, portanto, uma bela mentira, tanto que Fernando Pessoa, usando a figura do paradoxo, peculiar de seu estilo, chama o poeta de “fingidor”, no poema Autopsicografia de seu Cancioneiro. Eis a primeira estrofe, que se tornou famosa:
“O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.”
Só que o conhecimento artístico é falso apenas no plano histórico ou na realidade física: Capitu, a imortal personagem do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, não é um ser existente no plano da realidade material, porque não nasceu da união carnal de um homem e de uma mulher, mas é apenas fruto da fantasia, da inteligência criadora de seu autor. E por ser uma entidade espiritual, ela se tornou imortal, não estando sujeita às leis do tempo e do espaço. Morreu o autor, mas não sua criatura artística. Mas o fato de não ser real não quer dizer que a personagem de ficção não seja verdadeira. Muito pelo contrário: a figura de Capitu é mais autêntica do que qualquer mulher do mundo da realidade.
Explicamos: o ser humano, em carne e ossos, é vítima das normas sociais e dos preconceitos morais. Pelo sentimento do pudor ou por medo de sofrer sanções, a gente acaba ocultando as ideias e os desejos mais recônditos, que contrariam as convenções ético-sociais. Recorremos, portanto, ao uso da máscara psicológica de seres bem-comportados, integrados no convívio social, vivendo de uma forma hipócrita, sem nunca manifestar nossas aspirações mais secretas, que são muitas vezes inconfessáveis. Isso não acontece com o ser ficcional que, por se apenas fruto da fantasia, não está sujeito a apreensões ou ao medo de sofrer penalidades. Tal liberdade faz com que as criações artísticas possam exprimir as verdades mais profundas do ser humano, atingindo o universal, o eterno, o absoluto. Segundo a bela expressão do escritor Franz Kafka,
“a literatura é sempre uma expedição à verdade”.
Outra peculiaridade do conhecimento artístico é sua polissemia, a capacidade de captar múltiplos sentidos ao mesmo tempo ou em espaço e épocas diferentes. Enquanto a verdade científica é unívoca ou monológica, visto que, uma vez descoberto ou comprovado o princípio ou a lei, não se admite mais discussão, pois o fato é ou não é, o conhecimento artístico está centrado no dialogismo, na polifonia, na ambiguidade, podendo atingir a própria contradição: algo pode ser e não ser ao mesmo tempo, dependendo da perspectiva, do ponto de vista do leitor ou do espectador. A obra de arte nunca encerra um único sentido, sendo possíveis várias e diferentes interpretações. Dependendo do grau de cultura e de sensibilidade de quem o admira, o objeto de arte adquire sentidos sempre renovados.
A compreensão da forma e dos conteúdos de uma obra de arte literária ou plástica é inesgotável. Isso explica por que, séculos após séculos, ainda admiramos estátuas gregas, ainda representamos tragédias de Shakespeare, ainda nos encantamos com versos do poeta latino Catulo, ainda discutimos sobre a traição de Capitu e a verdadeira paternidade de seu filho. A história ficcional é ambígua porque na arte não importa a resposta, mas o questionamento, não a verdade fatual, mas a verossimilhança psicológica. Isso porque o ser artístico transcende o padrão individual, buscando alcançar um protótipo universal. Os poemas de Homero para os habitantes da Grécia antiga, assim como as passagens bíblicas para os hebreus, tinham o papel fundamental de ensinar os homens a viver em sociedade. Ainda hoje, apesar da desvirtuação da leitura provocada pelo progresso da televisão, do cinema, da informática, trechos poéticos de Dante, de Shakespeare, de Fernando Pessoa, de Camões, de Machado de Assis, de Carlos Drummond de Andrade continuam exercendo a função de lições de vida.
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