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As necessidades orçamentais levaram todas as administrações coloniais a tributar as populações camponesas africanas
que tutelavam. As receitas do imposto camponês, por seu lado, dependiam do grau de monetarização e
desenvolvimento dos territórios.
No caso dos distritos do norte de Moçambique durante a primeira metade da década de 1930, a recessão mundial fez
com que da cobrança do “imposto de palhota” resultasse uma situação de ruptura fiscal; para além da queda das
receitas, vários indicadores apontam para o aumento da tensão social (evasão fiscal, emigração clandestina, etc.).
Os cultivos forçados, especialmente o do algodão, foram então introduzidos para ampliar a capacidade contributiva das
populações. Através da sua implementação, e apesar das irracionalidades técnicas e sociais que lhe estão associados,
foi possível conseguir ao fim de poucos anos o crescimento extensivo do imposto camponês e levar enfim os distritos
do norte a uma “normalidade” fiscal que nunca tinham tido.
Palavras-chave: Moçambique, imposto, cultivos forçados, algodão
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1 – O IMPOSTO CAMPONÊS E AS CONTRADIÇÕES DO CAPITAL COLONIAL
Considerando o período até 1936, a exportação de capitais privados para as colónias africanas esteve
associada um investimento público que lhe foi quase equivalente (45% do total do capital exportado)
(SANTOS 2013; a partir de FRANKEL 1969: quadros 28 e 29) As taxas de lucro dos capitais coloniais tendiam a
ser superiores à média mas a necessidade de instalar nesses territórios o aparelho colonial de Estado
implicava que o investimento privado coexistisse com fracções elevadas de despesa público, não rentável. O
efeito desta combinação produziu situações de rentabilidade muito variáveis nas áreas coloniais.
No caso das colónias portuguesas, onde a participação do capital público no total do investimento estava
então acima dos 60%, diminuir a transferência fiscal para as administrações coloniais tornou-se, como
esperado, um objectivo permanente dos capitais metropolitanos. Mas como instalar o aparelho
metropolitano de Estado, com os respectivos equipamentos sociais, nos novos territórios sem taxar os lucros
que teriam que financiar a despesa pública?
Para todas as administrações coloniais, um financiamento alternativo só podia ser encontrado na tributação
dos rendimentos não capitalistas das populações que tutelavam. O volume dos investimentos nos territórios
coloniais manteve-se em geral baixo o que permitia que aí se mantivessem sociedades maioritariamente
formadas por camponeses, cuja reprodução se fazia à margem da rotação do capital. Generalizou-se
portanto nos territórios coloniais o que se pode denominar o imposto camponês: uma tributação directa
sobre rendimentos primários não-capitalistas, provenientes das comunidades camponesas que, depois da
ocupação dos territórios, se tornaram contribuintes das administrações coloniais.
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