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a linguagem, “mineirada” e poética, de Fernando Sabino se faz presente com toda a sua força em O menino no espelho. O modo despojado e leve com que narra fatos aparentemente corriqueiros, também. Entretanto, em se tratando de um romance de recordações de seus tempos de criança em sua terra natal, é natural que alguns episódios sejam perceptivelmente fantasiosos. Trata-se sem dúvida de uma daquelas obras de Sabino, em que a naturalidade da narração não diminui em nada o clímax da história. Pelo contrário. A ingenuidade dos pensamentos do protagonista Fernando, quando criança, comove espontaneamente o leitor mais niilista.
Sua narração começa em meio a um temporal, que denunciava grosseiramente as goteiras de sua bucólica residência. Seu pai, sua mãe e irmãos, todos fazem parte da trupe de personagens. Enquanto brincava com as poças de água, provocadas pela chuva, o mesmo Fernando se depara com um homem que conversa brevemente com ele, se despedindo em seguida sem revelar o nome. O menino não sabia quem era aquele misterioso ser. Somente no final do livro é revelado ao leitor o paradeiro do individuo. Tratava-se do próprio escritor, já adulto, que em meio ao lirismo da prosa de Sabino, trava em determinado momento, um singelo contato com a sua versão mirim. Mesmo cercado por fatos prosaicos, tal ocorrido oferta bela dose de emotividade à obra.
O surrealismo presente em O menino do espelho não se restringe à conversa atemporal do homem com a criança. Em dado momento da narração de suas peripécias juvenis, Fernando brinca e conversa com o seu reflexo no espelho, que por sua vez, ganha vida e passa a agir em vários momentos como o seu duplo. Tornam-se grandes amigos. Porém, quando descoberto por terceiros, o reflexo retorna ao seu mundo, o espelho, de onde jamais sairia novamente. Outros saudosos episódios infantis são contados primorosamente, como o primeiro amor, sua relação com os colegas da escola, a torcida pelo América de Belo Horizonte, o seu clube do coração, as brincadeiras com a amiguinha Mariana e o apego aos animais de estimação que povoavam a casa: um cachorro, um coelho, um papagaio e uma galinha, a quem batizou de Fernanda e salvou da “degola” na véspera desta se tornar o prato do dia na refeição.Belíssimo livro, mostrando que em 1982, anos após a publicação de O grande mentecapto, obra prima de Sabino, o autor ainda esbanjava saúde em sua habilidade literária.
Sua narração começa em meio a um temporal, que denunciava grosseiramente as goteiras de sua bucólica residência. Seu pai, sua mãe e irmãos, todos fazem parte da trupe de personagens. Enquanto brincava com as poças de água, provocadas pela chuva, o mesmo Fernando se depara com um homem que conversa brevemente com ele, se despedindo em seguida sem revelar o nome. O menino não sabia quem era aquele misterioso ser. Somente no final do livro é revelado ao leitor o paradeiro do individuo. Tratava-se do próprio escritor, já adulto, que em meio ao lirismo da prosa de Sabino, trava em determinado momento, um singelo contato com a sua versão mirim. Mesmo cercado por fatos prosaicos, tal ocorrido oferta bela dose de emotividade à obra.
O surrealismo presente em O menino do espelho não se restringe à conversa atemporal do homem com a criança. Em dado momento da narração de suas peripécias juvenis, Fernando brinca e conversa com o seu reflexo no espelho, que por sua vez, ganha vida e passa a agir em vários momentos como o seu duplo. Tornam-se grandes amigos. Porém, quando descoberto por terceiros, o reflexo retorna ao seu mundo, o espelho, de onde jamais sairia novamente. Outros saudosos episódios infantis são contados primorosamente, como o primeiro amor, sua relação com os colegas da escola, a torcida pelo América de Belo Horizonte, o seu clube do coração, as brincadeiras com a amiguinha Mariana e o apego aos animais de estimação que povoavam a casa: um cachorro, um coelho, um papagaio e uma galinha, a quem batizou de Fernanda e salvou da “degola” na véspera desta se tornar o prato do dia na refeição.Belíssimo livro, mostrando que em 1982, anos após a publicação de O grande mentecapto, obra prima de Sabino, o autor ainda esbanjava saúde em sua habilidade literária.
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