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A melhor e, ainda, a mais completa descrição da história da química no Brasil é o capítulo escrito por Heinrich Rheinboldt para o livro As ciências no Brasil, organizado por Fernando de Azevedo (1). Esta história ganha um novo impulso com o livro A indústria química e o desenvolvimento do Brasil 1500-1889, publicado em 1996, por Ernesto Carrara Junior e Hélio Meirelles, o qual completa uma lacuna que faltava na história da química brasileira (2).
Este texto deve ser visto como um ensaio, por não ter a profundidade de um artigo acadêmico, como merece a história da química no Brasil. Resume um conjunto de fatos e de marcos históricos, numa ótica muito pessoal dos autores, que enxergam a química num contexto mais amplo, não se limitando apenas à ciência e à indústria química.
Não é a visão de um historiador profissional que se dedica a entender as origens da química. Os autores pertencem à corrente daqueles que acreditam que a química nasce com a elaboração e transmissão de conhecimentos práticos, cujas origens remontam ao domínio do fogo, à confecção de artefatos de cerâmica e aos primeiros processos de tinturaria e de fermentação. Por este ângulo, pode-se afirmar que a primeira descrição da química no Brasil foi feita por Pero Vaz de Caminha na carta que enviou ao rei Dom Manuel para dar notícia da nova terra encontrada. Na carta, considerada por muitos como a "certidão de nascimento do Brasil", o escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral revela todo o seu espanto com as cores vivas ornamentais dos seus habitantes. Impressionou-o o vermelho e a tinta negro-azulada com as quais os indígenas estavam pintados. Isso dá uma amostra do domínio dos processos de extração de corantes naturais e do tingimento corporal que tinham os habitantes do Novo Mundo. Eles sabiam como extrair o corante vermelho do urucum, a Bixa orellana, e a seiva dos frutos da árvore Genipa americana, de nome genipapo, que ao reagir com a pele, produz uma coloração negro-azulada (3) e com os quais é produzido um licor muito apreciado, até os dias de hoje, em todo o Brasil.
Da descoberta da nova terra até o século XIX, pode-se afirmar que os únicos fatos relacionados à ciência foram protagonizados pelos cronistas que se ocuparam da descrição das virtudes das plantas medicinais da flora nativa, e de elogiarem os ares saudáveis e o clima da Terra de Santa Cruz, depois chamada de Brasil.
Algumas plantas medicinais brasileiras dos indígenas, descritas pelos cronistas, enriqueceram as farmacopeias europeias. O século XIX foi marcado pela presença de grandes expedições e cientistas estrangeiros que vieram para coletar amostras dos três reinos da natureza, para enriquecer as coleções dos museus europeus.
O marasmo científico de Portugal imposto pela força da igreja, liderada, principalmente, pela ordem dos jesuítas, que fizeram da censura o instrumento de controle das publicações científicas na metrópole e, em consequência, em todas as suas colônias ultramarinas, perdurou até a reforma feita por Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782), Conde de Oeiras e, depois Marquês de Pombal, o primeiro-ministro de D. José I. Um dos principais baluartes dos jesuítas, a Universidade de Évora, foi extinta em 1759, e a Reforma Pombalina, de 1772, levou à criação, na Universidade de Coimbra, das Faculdades de Matemática e de Filosofia Natural (ciências), e à reforma dos estudos de medicina. Novos estabelecimentos científicos se fizeram necessários, originando a construção de novos edifícios destinados ao Laboratório Químico, ao Observatório Astronômico, à Imprensa da Universidade e à instalação do núcleo inicial do Jardim Botânico (4).
Antes da Reforma Pombalina, no Brasil, assim como em Portugal, a ciência não "existia", diferentemente do que acontecia em outros países da Europa. As únicas discussões científicas ocorriam em algumas poucas academias e sociedades científicas, todas de vida muito efêmera. No Rio de Janeiro, por exemplo, foi criada, em 1786, a Sociedade Literária do Rio de Janeiro, que funcionou regularmente até 1790, e que se ocupou da discussão de temas científicos, como o método para extração da tinta do urucum e a análise de águas, para citar apenas dois assuntos relacionados diretamente com a química, discutidos pelos sócios acadêmicos (5).
Apesar de a produção de açúcar de cana nos engenhos brasileiros ter começado na Bahia após 1550, se estendendo depois para os estados de Alagoas e Pernambuco, e a indústria extrativista da mineração ter se iniciado a partir do século XVIII, atividades relacionadas à química eram praticamente inexistentes.
Este texto deve ser visto como um ensaio, por não ter a profundidade de um artigo acadêmico, como merece a história da química no Brasil. Resume um conjunto de fatos e de marcos históricos, numa ótica muito pessoal dos autores, que enxergam a química num contexto mais amplo, não se limitando apenas à ciência e à indústria química.
Não é a visão de um historiador profissional que se dedica a entender as origens da química. Os autores pertencem à corrente daqueles que acreditam que a química nasce com a elaboração e transmissão de conhecimentos práticos, cujas origens remontam ao domínio do fogo, à confecção de artefatos de cerâmica e aos primeiros processos de tinturaria e de fermentação. Por este ângulo, pode-se afirmar que a primeira descrição da química no Brasil foi feita por Pero Vaz de Caminha na carta que enviou ao rei Dom Manuel para dar notícia da nova terra encontrada. Na carta, considerada por muitos como a "certidão de nascimento do Brasil", o escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral revela todo o seu espanto com as cores vivas ornamentais dos seus habitantes. Impressionou-o o vermelho e a tinta negro-azulada com as quais os indígenas estavam pintados. Isso dá uma amostra do domínio dos processos de extração de corantes naturais e do tingimento corporal que tinham os habitantes do Novo Mundo. Eles sabiam como extrair o corante vermelho do urucum, a Bixa orellana, e a seiva dos frutos da árvore Genipa americana, de nome genipapo, que ao reagir com a pele, produz uma coloração negro-azulada (3) e com os quais é produzido um licor muito apreciado, até os dias de hoje, em todo o Brasil.
Da descoberta da nova terra até o século XIX, pode-se afirmar que os únicos fatos relacionados à ciência foram protagonizados pelos cronistas que se ocuparam da descrição das virtudes das plantas medicinais da flora nativa, e de elogiarem os ares saudáveis e o clima da Terra de Santa Cruz, depois chamada de Brasil.
Algumas plantas medicinais brasileiras dos indígenas, descritas pelos cronistas, enriqueceram as farmacopeias europeias. O século XIX foi marcado pela presença de grandes expedições e cientistas estrangeiros que vieram para coletar amostras dos três reinos da natureza, para enriquecer as coleções dos museus europeus.
O marasmo científico de Portugal imposto pela força da igreja, liderada, principalmente, pela ordem dos jesuítas, que fizeram da censura o instrumento de controle das publicações científicas na metrópole e, em consequência, em todas as suas colônias ultramarinas, perdurou até a reforma feita por Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782), Conde de Oeiras e, depois Marquês de Pombal, o primeiro-ministro de D. José I. Um dos principais baluartes dos jesuítas, a Universidade de Évora, foi extinta em 1759, e a Reforma Pombalina, de 1772, levou à criação, na Universidade de Coimbra, das Faculdades de Matemática e de Filosofia Natural (ciências), e à reforma dos estudos de medicina. Novos estabelecimentos científicos se fizeram necessários, originando a construção de novos edifícios destinados ao Laboratório Químico, ao Observatório Astronômico, à Imprensa da Universidade e à instalação do núcleo inicial do Jardim Botânico (4).
Antes da Reforma Pombalina, no Brasil, assim como em Portugal, a ciência não "existia", diferentemente do que acontecia em outros países da Europa. As únicas discussões científicas ocorriam em algumas poucas academias e sociedades científicas, todas de vida muito efêmera. No Rio de Janeiro, por exemplo, foi criada, em 1786, a Sociedade Literária do Rio de Janeiro, que funcionou regularmente até 1790, e que se ocupou da discussão de temas científicos, como o método para extração da tinta do urucum e a análise de águas, para citar apenas dois assuntos relacionados diretamente com a química, discutidos pelos sócios acadêmicos (5).
Apesar de a produção de açúcar de cana nos engenhos brasileiros ter começado na Bahia após 1550, se estendendo depois para os estados de Alagoas e Pernambuco, e a indústria extrativista da mineração ter se iniciado a partir do século XVIII, atividades relacionadas à química eram praticamente inexistentes.
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