• Matéria: Sociologia
  • Autor: Augusto7193
  • Perguntado 7 anos atrás

Texto sobre a desigualdade social entre os brancos e negros??

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respondido por: Imvictoria19
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A abolição da escravatura, em 13 de maio de 1888, saiu como o ato maior do altruísmo de uma princesa de ascendência portuguesa. Mas os fatos e os anos pós Lei Áurea mostraram muito mais. Para quem quisesse ver, é claro, a Lei não tornou negros escravizados cidadãos livres. Ao contrário, tornou o Império (e a República em seguida) e suas instituições verdadeiramente livres de continuar “carregando o fardo” dos corpos negros escravos, um atraso na sociedade da época, uma ameaça constante de evasão e levantes nos estados onde o abolicionismo já havia vencido e predominado, onde o capitalismo pedia mercado de consumo e produção assalariada para se legitimar.

Não havia qualquer dificuldade de perceber isso ontem. Não há qualquer dificuldade em perceber hoje.

Como tão bem apontou Florestan Fernandes , “os senhores foram eximidos da responsabilidade pela manutenção e segurança dos libertos, sem que o Estado, a Igreja ou qualquer outra instituição assumisse encargos especiais, que tivessem por objeto prepará-los para o novo regime de organização da vida e do trabalho”.Não havia qualquer dificuldade de perceber isso ontem. Não há qualquer dificuldade em perceber hoje.

Basta ver como o ano de 1888 está situado  entre dois diferentes momentos de nossa história.  De um lado, o incentivo, do Império, cada vez maior a partir de 1870, à entrada de trabalhadores imigrantes no país, principalmente europeus, para as lavouras basicamente do sul-sudeste; de outro, em 1890, a promulgação do Código Penal Brasileiro, em que o sujeito negro é a principal personificação dos “crimes” ali descritos.

A população outrora escravizada via sua mão de obra ser desprezada como ferramenta obsoleta e  seu corpo criminalizado, enquanto brancos das mais diversas nacionalidades ocupavam este lugar agora regido pelo regime assalariado e condições que não poderiam mais ser comparadas à escravidão (ao menos legalmente).

A ditadura militar no Brasil escolheu  investir na  “democracia racial”. Interessava aos militares a ideia do país unido, onde o único inimigo comum, para a toda a sociedade fosse de fato o comunismo e as ideias socialistas.

O intelectual e ex-senador Abdias do Nascimento, cujo principal livro se tornou um clássico e um escândalo, “O Genocídio do negro brasileiro”, já apontava em seu livro que os militares consideraram, em 1969, como “subversiva” uma campanha que abordava a discriminação racial. Eles temiam que a abordagem racial causaria novas áreas de atrito e crítica ao governo. Ou, como afirma o historiador americano Thomas Skidmore, os militares, a partir de 1968, tornaram “a pesquisa de campo sobre relações raciais virtualmente impossível”. E mais, “não só a rubrica raça foi omitida no censo de 1970, mas sobretudo a censura governamental impediu toda e qualquer crítica à imagem da democracia racial brasileira”.

Em nome da “democracia racial”, militantes negros que tentaram destruir o mito, contra a ditadura, foram perseguidos e torturados. E é evidente que, por trás dessa resistência também tem a reverberação da intensidade das lutas dos movimentos pelos direitos civis nos Estados Unidos, a repercussão dos assassinatos de Malcom X e Martin Luther King e como tudo isso inflamava os movimentos negros ao redor do mundo, junto com as lutas anticolonialistas no continente africano e em especial na África do Sul. No Brasil? Democracia racial.

E parece que o mito da democracia racial  venceu. Violentou tanto a mentalidade brasileira, silenciou tanto a população negra, sua memória, que hoje pode ser bem ilustrada, como exemplo, na resistência que as cotas raciais ainda enfrentam entre grande parte da sociedade, que enxerga sentido na cota para pobres mas rejeita em esmagadora maioria o uso das mesmas com recorte racial.

Uma cidade onde a desigualdade entre brancos e negros não compromete seu status de qualidade de vida é o exemplo significativo de quanto a desigualdade se cala, quando a parte mais miserável e explorada da desigualdade é preta.

Os debates sobre o sistema prisional e o encarceramento em massa que insiste em negar o aspecto racial da questão; o alto índice de homicídios no Brasil e por que atinge de forma tão acintosa a população negra, em especial os jovens, com diferenças gritantes e escandalosas em relação a população branca; os menores salários, que insistem em existir entre homens e mulheres, e são ainda mais gritantes quando essa mulher é negra; a academia branca que segue dando o tom na produção de saber e a ausência ainda profundamente perceptível dos autores e pensadores negros nas bibliografias principais; e assim vamos longe.







aqui está, é só resumir
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