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urante a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, o Brasil vivenciou um dos eventos mais fundamentais de sua História. O movimento liderado pelo Marechal Deodoro da Fonseca destituiu do poder o último imperador do país, inaugurando um novo sistema de governo, a República. No entanto, a despeito de sua relevância histórica, este acontecimento não alterou as estruturas socioeconômicas brasileiras: as desigualdades continuavam profundas, a economia frágil e arcaica e a cidadania não era experimentada em sua amplitude pela grande maioria da população.
Frente a este quadro de permanência de misérias e insatisfações, diversos setores da sociedade brasileira vieram a se mobilizar, trazendo à tona todo o inconformismo que então se fazia presente. Neste período, campos e cidades foram, então, tomados por inúmeras revoltas populares, demonstrando como os parâmetros jurídicos que limitavam a participação política à época não impediram, na prática, a atuação dos mais distintos grupos sociais.
Problema que ainda hoje nos aflige, a concentração de terras se apresentava como o principal ingrediente motivador das rebeliões que ocorreram nos campos brasileiros na passagem do século XIX para o XX. A exploração da mão de obra camponesa e as dificuldades de acesso à propriedade rural podem ser encontrados, assim, nas origens da “Revolta de Canudos”, da “Guerra do Contestado” e do movimento do “Cangaço”.
Ocorridos em locais distintos, a formação do arraial de Canudos (Bahia) e a Revolta do Contestado (região fronteiriça entre Paraná e Santa Catarina) fizeram-se a partir da luta dos mesmos atores sociais, ou seja, camponeses explorados em decorrência da expansão latifundiária. Do mesmo modo, possuíam a liderança de personagens entendidos por seus seguidores como verdadeiros “messias”. Antonio Conselheiro e José Maria representavam, portanto, um comando que era ao mesmo tempo político e religioso.
Os destinos dos dois movimentos foram igualmente semelhantes, com seus integrantes sendo ferozmente combatidos pelas tropas federais. E este foi o mesmo tratamento dado aos “cangaçeiros”. Interpretados pela historiografia ora como “heróis” que roubavam dos ricos para dar aos pobres, ora como bandidos que corrompiam a ordem estabelecida, estes indivíduos se utilizavam de práticas não legais como forma de resistência à miséria que os afligia. O enfrentamento a tais movimentos correspondia, deste modo, tanto aos interesses das oligarquias latifundiárias, quanto aos de um governo que ainda almejava se consolidar em âmbito nacional e que, portanto, não poderia admitir tamanhas convulsões sociais.
Embora tivesse uma população majoritariamente camponesa, a sociedade brasileira não se limitou ao espaço rural para demonstrar suas insatisfações com a recém-proclamada república. Contrários ao centralismo político que marcou as gestões de Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, rebeldes se levantaram no Rio de Janeiro e em cidades do sul através das “Revoltas da Armada”. Organizadas por setores da marinha, foram severamente reprimidas pelo governo, fato que valeu a Floriano a alcunha de “Marechal de Ferro”.
Em 1910, setores da marinha vieram novamente a se rebelar contra o governo. No entanto, dessa vez a revolta se fez a partir de marinheiros inconformados com as punições físicas que sofriam através da ação de seus superiores. A questão racial contribuiu igualmente à eclosão do movimento, já que a grande maioria dos castigados era constituída por marinheiros negros, muitos dos quais ex-escravos. Sob a liderança de João Cândido, o “Almirante Negro”, os revoltosos se confrontaram contra os militares fiéis ao governo, sendo derrotados após sangrentos embates.
A cidade do Rio de Janeiro apresentava grande centralidade nos movimentos sociais ocorridos durante a República Oligárquica. Capital federal, foi palco de inúmeros levantes contra o governo, inclusive da polêmica “Revolta da Vacina”. Tendo ocorrido durante a gestão do prefeito Pereira Passos, o movimento se opôs à obrigatoriedade de vacinação contra a varíola imposta pelo poder público. O que se contestava, na verdade, não era apenas o autoritarismo do projeto, mas as reais intenções do governo em estabelecer tal medida.
A insatisfação da população carioca com a administração do prefeito “Bota Abaixo” também se relacionava às reformas urbanísticas então desenvolvidas na capital. Marco fundamental do projeto “Paris Tropical”, a avenida Central foi aberta após a demolição de boa parte do morro do Castelo, o que acarretou a saída compulsória de diversas famílias que ali moravam. Muitas delas passaram a residir, então, em cortiços e nas primeiras favelas formadas na cidade.