• Matéria: Música
  • Autor: BrunaMaiia6574
  • Perguntado 7 anos atrás

Quais as qualidades de cada um dos goonies

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Renato Thibes

Cultura, alienação, tédio e desespero.

Jul 21, 2016

Os Goonies e o poder de uma turma



(“The Goonies”, 1985, Dir.: Richard Donner)

As minhas férias de verão na infância sempre incluíam uma viagem ao litoral sul de São Paulo, nas casas de parentes em Peruíbe ou na colônia de férias do Banco do Brasil em Itanhaém, com uma obrigatória passagem por São Paulo, porque naquela época ainda não existia o Rodoanel. São Paulo pra mim se resumia a Moema, onde meu tio morava, ao grandioso Shopping Ibirapuera e àquela pequena lojinha de brinquedos chamada A Miniatura, que está lá até hoje, sobrevivendo bravamente. Foi onde meus pais me compraram um boneco não-oficial do He-Man quando eu quebrei o braço numa aventura mal-sucedida no parquinho da colônia de férias, muito antes dos brinquedos oficiais do He-Man serem lançados por aqui.

Praias eram aventuras, perigos e diversões. A cidade grande era consumismo e acesso facilitado à cultura, pois numa dessas breves passagens por São Paulo uma prima indicou um filme divertido pra gente ver no cinema. Uma aventura de cavernas e tesouros escondidos com uma molecada aprontando altas confusões.

Não dá pra falar de “Os Goonies” sem rechear todo o conteúdo com a mais cafona, safada e desgraçada nostalgia. Quem nunca quis encontrar um mapa do tesouro e ir atrás dele com seus melhores amigos de infância? Trata-se de um parque de diversões em forma de filme e não se tornou ícone da infância da minha geração à toa: é referência no subgênero “filme de turminha”, tão copiado e jamais igualado.

Infelizmente, esta mesma geração que tem dificuldades para amadurecer e abusa da nostalgia às vezes tem vergonha do passado e acha mais prudente avacalhar os anos 80 do que reverenciar o que havia de bom neles. Durante um tempo, um certo culto ao chamado “lixo” dos anos 80 tentou vilipendiar o território sagrado da nossa memória afetiva. Filmes como “Os Goonies” ajudaram a formar o meu caráter, portanto sempre me senti ofendido com aquelas coletâneas que juntavam fotos deles ao lado de kichutes, cubos mágicos e Bozos no mesmo arquivo de powerpoint. Odeio quando o elenco original se reúne para comemorar alguma data especial e alguém encaminha a foto do pessoal nos dias de hoje com comentários de espanto porque, veja só, o moleque gordo emagreceu. Felizmente essa praga passou, obras como “Super 8” e “Stranger Things” passaram a tratar os ícones dos anos 80 com seu devido respeito e podemos seguir em frente evoluindo enquanto humanidade.

A tal memória afetiva é uma armadilha traiçoeira, temos sempre aquele medo de o filme não ser tão bom quanto a gente considerava na época. Algumas decepções são inevitáveis, por exemplo, “Short Circuit — O Incrível Robô” é uma porcaria. Mas “Os Goonies”, não. Ele tem defeitos sim, mas ainda tem qualidades suficientes pra você mostrar pro seu filho sem ele rir da sua cara. Porque não há criança que resista a um grupo de amigos da mesma idade em uma grande aventura de férias, a menos, é claro, que a maior aventura do seu filho seja caçar Pokemons na rua. Sei que é difícil, mas tente não criar seu filho assim. Acredite na Cyndi Lauper quando ela canta que “os Goonies são bons o bastante para você”.

Lá na minha distante infância no interior, qualquer reunião de amigos ou primos era uma pequena tentativa de se recriar “Os Goonies”: das brincadeiras no clube–infelizmente a geografia lemense não inclui cavernas–às excursões ao Playcenter, passando por explorações de bicicleta pela cidade, tudo era motivo.

Ainda na mesma época li a novelização do roteiro e deve ter sido o livro que devorei mais rápido na vida. Depois cometi um grande erro: rever o filme na adolescência. Adolescentes são metidos a besta e nessa revisão não achei tão grande coisa assim, uma impressão devidamente superada por revisões posteriores.

Vendo os outros filmes de turminha que vieram depois, notamos que não é fácil juntar uma molecada tão carismática quanto “Os Goonies”. E por molecada eu não me refiro somente ao elenco, mas às crianças crescidas por trás das câmeras.

Steven Spielberg escreveu a história e, apesar de não creditado, também deu seus pitacos na edição e na direção da segunda unidade. Ou seja, ele mandou na coisa toda, Chris Columbus roteirizou e Richard Donner dirigiu. Um trio de respeito. Um primor de casting e direção de crianças, habilidade notória de Spielberg. “Os Goonies” não deve ter feito muito sucesso entre seus amigos dos anos 70 — quer dizer, imagine a reação de Coppola e Scorsese — mas ainda é imensamente superior às porcarias que seu parceiro George Lucas produziu na mesma época, tipo “Howard, o Super-Herói”.

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