O grande problema desta civilização é o que fazer com seu lixo. O lixo industrial, o lixo atômico, o lixo humano. Um problema novo é o que fazer com o lixo precoce, o lixo que não passou por nenhum processo, não é refugo de nada e já é lixo. Como a situação fundiária no Brasil não vai mudar e como o modelo de desenvolvimento escolhido traz a exclusão programada, milhões de pessoas já nascem como sobra, como lixo prévio. Nascem não como um problema de absorção, mas de eliminação. Pense no que está sendo montado no Brasil como um imenso projeto de recolhimento de lixo precoce. Você estará perto da sua lógica, talvez inconsciente. Já vi escreverem que o que houve na Candelária e em Vigário Geral não foi chacina, foi faxina. Uma boa frase, e o símile é perfeito.Luis Fernando Verissimo, Jornal do Brasil. 20 abr. 1996.Vocabulário: precoce: prematuro, antecipado.refugo: resto, rebotalho.fundiária: relativa a terrenos, agrária.chacina: matança, morticínio, mortandade.faxina: limpeza geral.No texto acima, o cronista remete o leitor a episódios de chacinas que aconteceram no Rio de Janeiro nos anos 1990, envolvendo moradores de rua. Ele menciona, ironicamente, uma frase que, a seu ver, sintetiza as ocorrências. O efeito expressivo dessa frase decorre do aproveitamento de aspectos fonéticos, a serviço de tese sobre a existência, na sociedade, de um “lixo prévio” humano. da absoluta impossibilidade da vinculação entre as palavras utilizadas, em face da ideia inicialmente desenvolvida. do sentimento do cronista, propenso a admitir como necessária uma limpeza que livre a sociedade de pessoas indesejáveis. de um raciocínio voltado para esclarecer o processo de integração social então desenvolvido pelos poderes estabelecidos. do fato de estar a serviço do protesto generalizado contra a promiscuidade dos moradores de rua.
Respostas
A frase, bastante efetiva, utilizada pelo autor (que ele ouviu "em algum lugar'") é a frase que diz "não foi chacina, foi faxina", uma forma de dizer que as chacinas de moradores de rua, jovens e adultos, como a da Candelária foram uma maneira de "livrar-se" de uma parcela da população que não é vista como dignas de direitos pela sociedade e pelo poder público.
O autor é totalmente contra esta ideia, de modo que sua crônica é uma exposição crítica de uma posição absurda: a de que certas pessoas são "lixo" e que devem ser "retiradas", coisa que é aceita como verdade inquestionável por parte da sociedade.
O efeito da frase vem de aspectos fonéticos (chacina e faxina são foneticamente semelhantes) e dialoga diretamente com a "tese" criticada pelo autor.
É correta a alternativa A.