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Nelson Mandela: rompendo tradição
Romper com o revanchismo fácil e buscar uma solução que não exclua ninguém, nem mesmos seus adversários, é a grande mensagem que Nelson Mandela nos deixa. Cabe a nós praticá-la.
Acredito que todas as homenagens feitas para Nelson Mandela foram justas. O líder sul-africano foi o principal responsável pela luta contra barbárie vivida pelos negros durante o apartheid na África do Sul. Uma segregação baseada na cor e que definia como a sociedade local classificava a importância das pessoas. Porém, de todas as homenagens que vi e li, pouquíssimas deram ênfase à principal mensagem deixada por Madiba, como era carinhosamente chamado, durante seus 95 anos de vida.
Sabe-se que Mandela nasceu em uma aldeia tribal em uma família nobre. Por ser homem e, desde adolescência, demonstrar grande habilidade para a liderança, possivelmente ele seria em pouco tempo o líder da tribo. Porém, aos 23 anos, houve o primeiro rompimento. O futuro presidente sul-africano deixa a zona rural onde vivia rumo à faculdade. Forma-se advogado e um importante articulador da resistência não-violenta formada pela juventude que lutava por liberdade. O que passa despercebido é que justamente no seio de sua tradicional família Mandela se recusa a aceitar um casamento arranjado, um forte costume da época e que ainda é visto em algumas tribos africanas. Essa foi sua primeira manifestação contrária à falta de liberdade.
O segundo rompimento veio no Congresso Nacional Africano (CNA), organização importante que lutava contra o apartheid. Fundou a Liga Jovem na década de 1940 e iniciou de fato sua luta contra a segregação racial. Os protestos, sempre pacíficos, demonstravam como Mandela enfrentava as elites brancas e o racismo institucionalizado. Porém, as atividades pacíficas não eram suficientes e Mandela colaborou para a fundação do “Lança da Nação”, uma facção armada do CNA. Preso pelo governo, foi condenado à prisão perpétua em 1962. Durante o comprimento da pena em uma ilha penitenciária, vários movimentos contra o apartheid foram surgindo e a opinião pública mundial se voltava para a África do Sul e em especialmente para um líder que estava preso há quase três décadas. Depois de vários apelos, Nelson Mandela foi liberto e reconduziu, agora definitivamente de forma pacífica, a luta pelo fim do apartheid. Em 1992, após dois anos de sua liberdade, as leis segregacionistas foram abolidas da África do Sul. Mandela havia vencido.
O mais importante rompimento veio quando Nelson Mandela foi eleito presidente da África do Sul em 1994 nas primeiras eleições multirraciais daquele país. O fato de Madiba usar os meios democráticos e pacíficos para assumir o poder chama atenção e é um extraordinário exemplo de como combater seus opositores de forma pacífica e não pagar na mesma moeda as ações sofridas. Esse é o grande legado deixado por Mandela. Esse é o grande ensinamento que deve ser perpetuado não só na África do Sul como em todos os países que ainda sofrem com a repressão e a falta de liberdade. Romper com o revanchismo fácil e buscar uma solução que não exclua ninguém, nem mesmos seus adversários, é a grande mensagem que Nelson Mandela nos deixa. Cabe a nós praticá-la.