O “lugar de fala” é um termo que aparece com frequência em conversas entre militantes de movimentos feministas, negros ou LGBT e em debates na internet. O conceito representa a busca pelo fim da mediação: a pessoa que sofre preconceito fala por si, como protagonista da própria luta e movimento. É um mecanismo que surgiu como contraponto ao silenciamento da voz de minorias sociais por grupos privilegiados em espaços de debate público. Ele é utilizado por grupos que historicamente têm menos espaço para falar. Assim, negros têm o lugar de fala - ou seja, a legitimidade - para falar sobre o racismo, mulheres sobre o feminismo, transexuais sobre a transfobia e assim por diante. Na prática, o conceito pode auxiliar pessoas a compreenderem como o que falamos e como falamos marca as relações de poder e reproduz, ainda que sem intenção, o racismo, machismo, lgbtfobia e preconceitos de classe e religiosos. Uma crítica à adesão total do “lugar de fala” num debate público é que ele pode restringir a troca de ideias. Exemplo: um homem ser impedido de falar sobre o feminismo, posição defendida por algumas correntes do movimento feminista. Para especialistas ouvidos pelo Nexo, a maneira como o conceito é aplicado no debate hoje é muitas vezes superficial e incompleta, o que pode levar a equívocos em sua aplicação. A origem do termo do “lugar de fala” não é precisa. Em geral, pesquisadores apontam que suas raízes estão no debate feminista americano, por volta dos anos 1980. O filósofo e professor de Gestão de Políticas Públicas da USP Pablo Ortellado aponta que o que se tornaria o “lugar de fala” aparece pela primeira vez no artigo “O problema de falar pelos outros”, da filósofa panamenha Linda Alcoff, e no ensaio “Pode o subalterno falar?”, da professora indiana Gayatri Spivak.