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Esta resposta se encontra em:
AZEREDO, José Carlos de. Sintaxe e discurso. In: Iniciação à sintaxe do português. 9. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007. cap. 7, p. 120-139
A “linguística textual” é ainda um conceito muito recente. A produção
discursiva vem também ganhando espaço, e os linguistas se mostram
sensíveis às relações entre a linguagem, o contexto social e os interesses
diversos dos interlocutores. O discurso se situa no ponto de tensão entre a
individualidade criativa do locutor/enunciador e o conjunto de variáveis que
limitam, condicionam ou afetam de diversos modos a enunciação, como por
exemplo: o código linguístico, o interlocutor, o tempo, o espaço, a situação
social, o conteúdo, crenças e valores culturais, o texto em processo e outros
textos. O interlocutor destaca-se, pois é tom
ado como ‘cúmplice’ de muitas
variáveis. As variáveis se materializam ou influem no discurso através de certos
procedimentos e suas relações. Há três grandes categorias discursivas que
agrupam alguns desses procedimentos: a modalidade (relações com o
interlocutor e o conteúdo), a referência (relações com o tempo e o espaço) e a
polifonia (relações com outros textos/discursos).
A modalidade diz respeito à expressão lingüística de dois aspectos: as
apreciações do locutor sobre o conteúdo proposicional das orações e seus
interesses e intenções quanto às tarefas da enunciação. As apreciações do
locutor se exprimem por meio de: sintagmas adverbiais ou preposicionados,
predicadores seguidos de ‘que’ mais oração ou justapostos no enunciado,
verbos modais, modos do verbo, marcadores de foco, empregos modais dos
tempos verbais, conjunções, verbos que explicitam o ato praticado pelo locutor
e entoação. As intenções e interesses do locutor se exprimem por meio de:
predicados seguidos de infinitivo ou ‘que’ mais oração,
verbos modais, verbos
que explicitam o ato praticado pelo locutor, modos do verbo e entoação.
Os marcadores de foco situam-se na fronteira dos sintagmas. O autor
traz a classificação em: inclusão (até, inclusive, mesmo, também), exclusão
(apenas, salvo senão, só somente), designação (eis) e realce (é que). Essas
unidades não servem de bases, de modificadores, de conectivos ou de
transpositores. Elas marcam fronteiras sintagmáticas, exprimindo certas
informações que o locutor considera relevantes por serem
‘novas’
para o
ouvinte; servem para estabelecer relações de implicação e/ou pressuposição
com outros enunciados.
A referência constitui o conjunto dos meios pelos quais o locutor designa
no discurso as variáveis do contexto: ele próprio (o locutor), o interlocutor, o
tempo, o espaço, o assunto. Também ao contexto são referidas as épocas em
que se situa o conteúdo do predicado, flexionalmente expressas através do
verbo: presente, passado, futuro. As classes lexicais diretamente envolvidas
com esse sistema referencial são o verbo, os pronomes pessoais,
demonstrativos e possessivos e os advérbios de tempo, de lugar e de modo.
A polifonia pode ser definida como a incorporação que o locutor faz ao
seu discurso de asserções atribuídas a outros enunciadores ou personagens
discursivos. O procedimento mais óbvio dessa “incorporação” é a ‘citação’, que
graficamente se costuma indicar por meio de aspas ou por meio de travessão.
O menos óbvio costuma ser a ‘alusão’, para cuja identificação o enunciador
raramente fornece pistas gramaticais ou textuais.
A coesão é um dos vários fatores que concorrem para conferir a um
fragmento qualquer de discurso o caráter de texto. Ela constitui a continuidade
que há entre uma e outra parte do texto. Essa continuidade consiste em haver
em cada ponto do discurso a ligação necessária entre um segmento e outro
que o preceda. A coesão se expressa em parte através de recursos
gramaticais
–
como os pronomes pessoais e demonstrativos
–
em parte
através do léxico. Pode-se, portanto,...