• Matéria: Artes
  • Autor: lucasrib741
  • Perguntado 7 anos atrás

O bumba meu boi

Entre os autos populares conhecidos e praticados no Brasil – pastoril, fandango, chegança, reisado, congada, etc. – aquele em que melhor o povo exprime a sua crítica, aquele que tem maior conteúdo jornalístico, é, realmente, o bumba meu boi, ou simplesmente boi.

Para Renato Almeida, é o “bailado mais notável do Brasil, o folguedo brasileiro de maior significação estética e social”. Luís da Câmara Cascudo, por seu turno, observou a sua superioridade porque “enquanto os outros autos cristalizaram, imóveis, no elenco de outrora, o bumba meu boi é sempre atual, incluindo soluções modernas, figuras de agora, vocabulário, sensação, percepção contemporânea. Na época da escravidão mostrava os vaqueiros escravos vencendo pela inteligência, astúcia e cinismo. Chibateava a cupidez, a materialidade, o sensualismo de doutores, padres, delegados, fazendo-os cantar versinhos que eram confissões estertóricas. O capitão-do-mato, preador de escravos, assombro dos moleques, faz-sono dos negrinhos, vai ‘caçar’ os negros que fugiram, depois da morte do Boi, e em vez de trazê-los é trazido amarrado, humilhado, tremendo de medo. O valentão mestiço, capoeira, apanha pancada e é mais mofino que todos os mofinos. Imaginem a alegria negra, vendo e ouvindo essa sublimação aberta, franca, na porta da casa-grande de engenho ou no terreiro da fazenda, nos pátios das vilas, diante do adro da igreja! A figura dos padres, os padres do interior, vinha arrastada com a violência de um ajuste de contas. O doutor, o curioso, metido a entender de tudo, o delegado autoritário, valente com a patrulha e covarde sem ela, toda a galeria perpassa, expondo suas mazelas, vícios, manias, cacoetes, olhada por uma assistência onde estavam muitas vítimas dos personagens reais, ali subalternizados pela virulência do desabafo”.

Como algumas outras manifestações folclóricas, o bumba meu boi utiliza uma forma antiga, tradicional; entretanto, fá-la revestir-se de novos aspectos, atualiza o entrecho, recompõe a trama. Daí “o interesse do tipo solidário que desperta nas camadas populares”, como o assinala Édison Carneiro. Interesse que só pode manter-se porque o que no auto se apresenta não reflete apenas situações do passado, “mas porque têm importância para o futuro”. Com efeito, tendo por tema central a morte e a ressurreição do boi, “cerca-se de episódios acessórios, não essenciais, muito desligados da ação principal, que variam de região para região... em cada lugar, novos personagens são enxertados, aparentemente sem outro objetivo senão o de prolongar e variar a brincadeira”. Contudo, dentre esses personagens, os que representam as classes superiores são caricaturados, cobrindo-se de ridículo, o que torna “o folguedo, em si mesmo, uma reivindicação”.

Sílvio Romero recolheu os versos de um bumba meu boi, através dos quais se constata a intenção caricaturesca nos personagens do folguedo. Como o Padre, que recita:

Não sou padre, não sou nada

“Quem me ver estar dançando

Não julgue que estou louco;

Secular sou como os outros”.

Ou como o Capitão-do-Mato que, dando com o negro Fidélis, vai prendê-lo:

“CAPITÃO – Eu te atiro, negro

Eu te amarro, ladrão,

Eu te acabo, cão.”

Mas, ao contrário, quem vai sobre o Capitão e o amarra é o Fidélis:

“CORO – Capitão de campo

Veja que o mundo virou

Foi ao mato pegar negro

Mas o negro lhe amarrou.

CAPITÃO – Sou valente afamado

Como eu não pode haver;

Qualquer susto que me fazem

Logo me ponho a correr”.

(Luiz Beltrão. Comunicação e folclore. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1971.)

(UNESP) O fragmento apresentado focaliza, por meio da opinião do autor e de outros folcloristas mencionados, o bumba meu boi, auto popular brasileiro bastante conhecido. A leitura do fragmento, como um todo, deixa claro que o núcleo temático do bumba meu boi é sempre


(A)
a perseguição aos escravos que fugiram das fazendas.


(B)
a vingança dos escravos contra o capitão-do-mato.


(C)
a morte e a ressurreição do boi.


(D)
o castigo dos valentões, que acabam se mostrando covardes.


(E)
a crítica aos padres e religiosos em geral pela sensualidade.

Respostas

respondido por: EduardoPLopes
8

Toda manifestação artística é caracterizada por alguns elementos que são essenciais, de modo que, se ausentes, a manifestação ficaria descaracterizada.

No caso de manifestações folclóricas, como é o bumba meu boi, geralmente os elementos essenciais são elementos formais, uma vez que a transmissão conteudística, nesta forma, é menos comum que a transmissão de um hábito, de modo que o modo como a festa se organiza passa de geração em geração, mas o conteúdo crítico que é por vezes associado a ela não.

Nesta perspectiva é correta a alternativa C.

respondido por: gigicarebulico
9

Resposta:

LETRA (C)

Explicação:

FIZ NO POSITIVO ON E ESTA CERTO

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