Question

Uma vela para Dario

(...)

Registra-se correria de uns duzentos curiosos que, a essa hora, ocupam toda a rua e as calçadas: é a polícia. O carro negro investe a multidão. Várias pessoas tropeçam no corpo de Dario, pisoteado dezessete vezes.

O guarda aproxima-se do cadáver, não pode identificá-lo – os bolsos vazios. Resta na mão esquerda a aliança de ouro, que ele próprio – quando vivo – só destacava molhando no sabonete. A polícia decide chamar o rabecão.

A última boca repete – Ele morreu, ele morreu. A gente começa a se dispersar. Dario levou duas horas para morrer, ninguém acreditava estivesse no fim. Agora, aos que alcançam vê-lo, todo o ar de um defunto.

Um senhor piedoso dobra o paletó de Dario para lhe apoiar a cabeça. Cruza as mãos no peito. Não consegue fechar olho nem boca, onde a espuma sumiu. Apenas um homem morto e a multidão se espalha, as mesas do café ficam vazias. Na janela alguns moradores com almofadas para descansar os cotovelos.

Um menino de cor e descalço vem com uma vela, que acende ao lado do cadáver. Parece morto há muitos anos, quase o retrato de um morto desbotado pela chuva.

Fecham-se uma a uma as janelas. Três horas depois, lá está Dario à espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó. E o dedo sem a aliança. O toco de vela apaga-se às primeiras gotas da chuva, que volta a cair.

Dalton Trevisan

O trecho acima é o fragmento final de um contundente conto por meio do qual somos convidados a refletir sobre as diversas reações das pessoas em torno da morte súbita, na rua, de um personagem. O estilo narrativo do cronista está centrado em frases curtas e o último parágrafo exemplifica isso. Nesse parágrafo, aliás, o único período que é composto, ou seja, apresenta mais de uma oração, é:
A)“Fecham-se uma a uma as janelas”.
B)“Três horas depois, lá está Dario à espera do rabecão”.
C)“A cabeça agora na pedra, sem o paletó”.
D)“E o dedo sem a aliança”.
E)“O toco de vela apaga-se às primeiras gotas da chuva, que volta a cair”.

Answer 1

letra E) "apaga-se" e "volta"