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aqui mano não sei se estar certa
Para quem vê o ar etéreo e quase mágico de uma bailarina sobre o palco pode ser difícil entender que, por trás de tamanho encanto e delicadeza, está uma atividade que exige garra, disciplina e um esforço físico enorme.
Além da necessidade interminável de superação do corpo, aquelas que escolheram o balé como profissão enfrentam uma carreira que, apesar de admirada, não é levada a sério pelos que não fazem parte do “mundo” da dança.
“Durante toda a minha vida, sofri muito preconceito por querer levar a dança como atividade profissional. Essa discriminação nasce pela questão financeira; as pessoas acham que é impossível viver disso”, destaca Letícia Viana, professora de balé e dona do Studio Le Dance, em Nova Lima, na Grande BH.
Aos 32 anos, ela afirma estar melhor economicamente que as colegas que a criticaram no fim da adolescência por deixar o vestibular de lado para seguir na dança. “Quando você faz as coisas com amor, o retorno é certo”, observa.
Letícia Viana, Bailarina
“Acho que as pessoas fora do meio da dança têm a impressão de que ser bailarina é algo encantado”, afirma a professora de balé Letícia Viana
Karla Couto, bailarina preparadora técnico/artístico da Companhia de Dança Palácio das Artes, dançou na Fundação Clóvis Salgado, onde trabalha há 31 anos, por 27. Ela conta que, há mais tempo, quando a perguntavam qual a profissão dela, era necessário explicar.
“Eu ia preencher um cadastro, por exemplo, e as pessoas diziam: ‘Que lindo, você é bailarina! Mas qual é sua profissão de verdade?’. É uma arte muito completa, mas não é reconhecida”, relata Karla, hoje com 51 anos.
Estilo de vida
A visão das duas dançarinas sobre a pouca valorização do balé na cultura brasileira é compensada pelos benefícios e ensinamentos obtidos por meio da atividade.
“A dança transformou a minha vida, me ensinou a respeitar minhas limitações, a vencer meus medos, trouxe-me foco e independência financeira. O balé é um estilo de vida”, revela Letícia Viana.
A capacidade de conhecer o outro e a interação social são alguns dos muitos ganhos apontados por Karla Couto. “O balé é tudo. Se não fosse a dança, não sei o que eu seria”, confessa.
A profissional, que por nove anos foi a primeira-bailarina do Palácio das Artes, formou família na dança. Casou-se com um bailarino da mesma companhia, e a filha deles, de 16 anos, pratica a arte desde os 4.
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Disciplina
Aos 37 anos, a advogada Ana Letícia Mattos, autora do blog e canal do YouTube Anita Bem Criada, acredita que todos os projetos que realizou ao longo da vida e que foram bem sucedidos têm um traço do balé. “Acho que muito pela questão da disciplina. Eu pego algo e levo até o fim”, diz.
Ela começou a dançar aos 5 anos por incentivo da mãe, que tinha o sonho de ser bailarina, mas não teve oportunidade. Desde então, Ana busca sempre a continuidade da prática.
“Parei por alguns períodos: em uma ocasião me mudei de Belo Horizonte para Brasília e quando operei a tireoide (ao passar por um câncer em 2009)”, relembra.
“O balé para mim é força, resistência, superação a todo instante, querer melhorar mais e mais. Buscamos a perfeição, é a nossa meta, apesar de que a perfeição não existe. Ao mesmo tempo que precisamos passar uma imagem leve, precisamos ter músculos desenvolvidos como abdômem, pernas e costas”
Ana Letícia Mattos, advogada e autora do blog Anita Bem Criada
Hoje, ela enxerga no balé uma fuga da rotina pesada do dia a dia. “Apesar de ser uma atividade que exige muito, me sinto relaxada e segura quando estou na escola”, descreve.
Benefícios proporcionados pelo balé podem ser sentidos por públicos de todas as idades
Ter iniciado a vida no balé ainda na infância é um ponto em comum entre Letícia, Karla e Ana, mas não é necessariamente uma regra para executar a atividade e absorver ensinamentos e benefícios como postura, habilidade corporal e controle mental e físico.
A dança foi inserida na história de Letícia Viana aos 6 anos, no Studio Arte Dança, em Divinópolis, na região Centro-Oeste do Estado. Aos 13, incentivada pela dona da escola, começou a dar aulas. “Fui prodígio, ensinava as crianças bem pequenas”, conta a bailarina, que abriu o próprio estúdio de dança aos 28 anos, em 2013.
Para ela, qualquer idade é ideal para usufruir das benesses que o balé proporciona: basta respeitar a estrutura óssea e muscular da pessoa.
“Nossa aluna mais nova tem 1 ano e 8 meses e a mais velha, 62 anos. Com bebês e crianças menores, trabalhamos o lúdico, a coordenação motora. Já as mulheres maduras que nos procuram geralmente têm um histórico na dança e abandonaram a prática ao longo da vida. É uma retomada”, observa Letícia.