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INTRODUÇÃO
Durante o longo período do século passado em que a economia cafeeira se assentava sobre o regime de trabalho escravo, e mesmo nas duas décadas seguintes, ao final da escravidão, nas lavouras de café, o mecanismo de financiamento da produção vinculava-se profundamente à comercialização do produto. Adquiria em tal sistema um papel central a presença do comerciante de café, das praças de Santos e do Rio de Janeiro. E o fazendeiro de café, nessas mesmas circunstâncias, dependia, em grande medida, do "seu" comerciante de Santos ou do Rio.
Tal dependência do fazendeiro possuía um caráter duplo: dependia do comerciante para a realização dos seus lucros através da venda do produto; e precisava igualmente deste último para obter os recursos financeiros necessários à produção. Consistia, pois, não apenas na comercialização - já que este é o seu papel - a natureza especial das funções exercidas pelo comerciante na economia cafeeira. O que o diferenciava de um comerciante comum era o fato de exercer, ao mesmo tempo, a atividade de financiador da lavoura.
É bem verdade que a importância dos recursos financeiros na lavoura de café é considerável, devido a duas circunstâncias especiais. Trata-se, primeiramente, de uma cultura permanente que exige um período relativamente longo para sua formação. As variedades de café, correntes no começo do século, produziam seus primeiros frutos somente no quarto ano, após o plantio, e, mesmo essa colheita inicial, era modesta. A lavoura era considerada formada e, em plena produção, apenas no seu quinto ou sexto ano de vida. Em conseqüência, os gastos com a formação exigiam uma inversão de recursos cujos primeiros retornos tardariam longo tempo a aparecer. A segunda razão prende-se às elevadas exigências do trato cultural do cafezal. São necessárias diversas carpas durante o ano (um cafezal bem tratado exigia na época em torno de seis carpas ao ano) para conservar a lavoura "no limpo" e assim preservar a produtividade da planta, bem como outras tarefas necessárias para manter essa mesma produtividade. É assim evidente que, se o regime de trabalho envolver remuneração monetária da força de trabalho, a lavoura exige, e muito, capital de giro para sua operação.
Dessa forma, a partir da segunda metade do século XIX teve início no estado de São Paulo a ascensão cafeeira e o reajuste da economia regional e nacional.