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Os males do uso excessivo
Esse congestionamento causa problemas diretos de saúde (e fechar a janela do carro e ligar o ar condicionado não adianta porque, mesmo filtrando o material particulado, ainda penetram no veículo gases como dióxido de nitrogênio) e com acidentes (quatro mortos por dia em são paulo – sendo um deles pedestre, que não tem nada a ver com carros ou motos – e 30 mil mortes no Brasil ao ano só nas estradas), indiretos (stress e ansiedade), econômicos (com trabalhadores que poderiam estar produzindo, vendendo, prestando serviços em vez de estar ali, com negócios que deixam de ser fechados, com reuniões adiadas, produtos não entregues, etc.) e sociais(pessoas que passam menos tempo com a família, convivem menos com os amigos, vêem menos os vizinhos, importam-se menos com as pessoas). E devo ter me esquecido de muita coisa.
O transporte coletivo por aqui tem perdido cada vez mais espaço para o uso individual: as antigas faixas exclusivas de ônibus agora são “preferenciais”, em horários específicos e dividindo espaço com táxis; os ônibus fretados, que substituíam muitos carros individuais, foram proibidos em boa parte da cidade, fazendo muita gente desistir e voltar a entupir as ruas com os carros.
O espaço público também é cada vez mais perdido para o tráfego e estacionamento de carros: praças hoje são cortadas por avenidas (exemplo emblemático é a “Praça” Panamericana, que nada mais é que uma rotatória gigante); atravessar duas quadras da Paulista leva mais tempo que fazer um retorno de carro, principalmente se o pedestre precisa cruzar a avenida; andar a pé passou a ser perigoso a cada rua que se precisa atravessar, tanto que as pessoas literalmente brigam por uma vaga *em frente* ao lugar onde precisam ir, para não terem que andar 100 metros; a área construída de muitos estabelecimentos comerciais, principalmente shoppings, costuma ter mais espaço para carros do que para pessoas; calçadas estreitas, que mal permitem a passagem de uma pessoa por vez, poderiam ser ampliadas, tomando o espaço de estacionamento, se não fosse mais importante a via asfaltada que o calçamento; calçadas “em degrau”, para facilitar a entrada de carros em garagens, impedem a passagem de cadeirantes em qualquer ladeira da cidade; as crianças têm de ficar confinadas aos muros do condomínio, ao ônibus escolar, ao carro dos pais e ao shopping center, fazendo um passeio em local aberto ser uma experiência de agorafobia e tendo que tomar cuidado até mesmo nas calçadas, porque nunca se sabe quando um carro pode emergir rapidamente de uma saída de garagem; faixas de pedestres se tornaram meramente decorativas – exceto em semáforos, onde funcionam como linha de largada.
E ainda temos as consequências sociais: o ritual de passagem para a vida adulta deixou de ser as mudanças no corpo e na voz para passar a ser a carteira de habilitação; dirigir bem passou a ser dirigir rápido e com agilidade; ter sucesso na vida passou a ser ter um carro bom, em vez de ser feliz ou ter sua própria casa (mesmo que esse carro seja financiado em quatrilhões de vezes e tenha três parcelas em atraso); a informação sobre ter um carro consta em fichas de emprego; ir de ônibus a uma festa é inadmissível; chique é a noiva chegar em carro bom, mesmo que o resto do ano ela ande a pé; trocar de carro é a meta de médio prazo de quem acabou de comprar um carro novo; manter o mesmo carro por muito tempo é sinal de estagnação; ter um carro bom é ser confiável e respeitado.
Esse congestionamento causa problemas diretos de saúde (e fechar a janela do carro e ligar o ar condicionado não adianta porque, mesmo filtrando o material particulado, ainda penetram no veículo gases como dióxido de nitrogênio) e com acidentes (quatro mortos por dia em são paulo – sendo um deles pedestre, que não tem nada a ver com carros ou motos – e 30 mil mortes no Brasil ao ano só nas estradas), indiretos (stress e ansiedade), econômicos (com trabalhadores que poderiam estar produzindo, vendendo, prestando serviços em vez de estar ali, com negócios que deixam de ser fechados, com reuniões adiadas, produtos não entregues, etc.) e sociais(pessoas que passam menos tempo com a família, convivem menos com os amigos, vêem menos os vizinhos, importam-se menos com as pessoas). E devo ter me esquecido de muita coisa.
O transporte coletivo por aqui tem perdido cada vez mais espaço para o uso individual: as antigas faixas exclusivas de ônibus agora são “preferenciais”, em horários específicos e dividindo espaço com táxis; os ônibus fretados, que substituíam muitos carros individuais, foram proibidos em boa parte da cidade, fazendo muita gente desistir e voltar a entupir as ruas com os carros.
O espaço público também é cada vez mais perdido para o tráfego e estacionamento de carros: praças hoje são cortadas por avenidas (exemplo emblemático é a “Praça” Panamericana, que nada mais é que uma rotatória gigante); atravessar duas quadras da Paulista leva mais tempo que fazer um retorno de carro, principalmente se o pedestre precisa cruzar a avenida; andar a pé passou a ser perigoso a cada rua que se precisa atravessar, tanto que as pessoas literalmente brigam por uma vaga *em frente* ao lugar onde precisam ir, para não terem que andar 100 metros; a área construída de muitos estabelecimentos comerciais, principalmente shoppings, costuma ter mais espaço para carros do que para pessoas; calçadas estreitas, que mal permitem a passagem de uma pessoa por vez, poderiam ser ampliadas, tomando o espaço de estacionamento, se não fosse mais importante a via asfaltada que o calçamento; calçadas “em degrau”, para facilitar a entrada de carros em garagens, impedem a passagem de cadeirantes em qualquer ladeira da cidade; as crianças têm de ficar confinadas aos muros do condomínio, ao ônibus escolar, ao carro dos pais e ao shopping center, fazendo um passeio em local aberto ser uma experiência de agorafobia e tendo que tomar cuidado até mesmo nas calçadas, porque nunca se sabe quando um carro pode emergir rapidamente de uma saída de garagem; faixas de pedestres se tornaram meramente decorativas – exceto em semáforos, onde funcionam como linha de largada.
E ainda temos as consequências sociais: o ritual de passagem para a vida adulta deixou de ser as mudanças no corpo e na voz para passar a ser a carteira de habilitação; dirigir bem passou a ser dirigir rápido e com agilidade; ter sucesso na vida passou a ser ter um carro bom, em vez de ser feliz ou ter sua própria casa (mesmo que esse carro seja financiado em quatrilhões de vezes e tenha três parcelas em atraso); a informação sobre ter um carro consta em fichas de emprego; ir de ônibus a uma festa é inadmissível; chique é a noiva chegar em carro bom, mesmo que o resto do ano ela ande a pé; trocar de carro é a meta de médio prazo de quem acabou de comprar um carro novo; manter o mesmo carro por muito tempo é sinal de estagnação; ter um carro bom é ser confiável e respeitado.
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