• Matéria: Português
  • Autor: SasaVih
  • Perguntado 7 anos atrás

Durante dois anos o cortiço prosperou de dia para dia, ganhando forças, socando-se de gente. E ao lado o Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância brutal de vida, aterrado defronte daquela floresta implacável que lhe crescia junto da casa, por debaixo das janelas, e cujas raízes, piores e mais grossas do que serpentes, minavam por toda a parte, ameaçando rebentar o chão em torno dela, rachando o solo e abalando tudo.

Posto que lá na Rua do Hospício os seus negócios não corressem mal, custava-lhe a sofrer a escandalosa fortuna do vendeiro “aquele tipo! um miserável, um sujo, que não pusera nunca um paletó, e que vivia de cama e mesa com uma negra!”

À noite e aos domingos ainda mais recrudescia o seu azedume, quando ele, recolhendo-se fatigado do serviço, deixava-se ficar estendido numa preguiçosa, junto à mesa da sala de jantar, e ouvia, a contragosto, o grosseiro rumor que vinha da estalagem numa exalação forte de animais cansados. Não podia chegar à janela sem receber no rosto aquele bafo, quente e sensual, que o embebedava com o seu fartum de bestas no coito.

E depois, fechado no quarto de dormir, indiferente e habituado às torpezas carnais da mulher, isento já dos primitivos sobressaltos que lhe faziam, a ele, ferver o sangue e perder a tramontana, era ainda a prosperidade do vizinho o que lhe obsedava o espírito, enegrecendo-lhe a alma com um feio ressentimento de despeito.

Tinha inveja do outro, daquele outro português que fizera fortuna, sem precisar roer nenhum chifre; daquele outro que, para ser mais rico três vezes do que ele, não teve de casar com a filha do patrão ou com a bastarda de algum fazendeiro freguês da casa!

Aluísio de Azevedo – O Cortiço

Um texto se desenvolve por meio de mecanismos de coesão, que lhe garantem a pretendida coerência e lhe vão esclarecendo o significado. Como elementos coesivos, destacam-se conjunções e preposições (e respectivas locuções), palavras ou expressões conectoras que promovem a progressão textual. Com relação ao fragmento acima, pode-se dizer que

A na passagem “e cujas raízes, piores e mais grossas do que serpentes, minavam por toda a parte” encontramos oração comparativa com verbo subentendido.
B a locução “posto que”, que inicia o segundo parágrafo, introduz oração que expressa a ideia de condição capaz de justificar o contido no trecho subsequente.
C a oração “sem receber no rosto aquele bafo, quente e sensual”, de natureza adverbial, introduz o sentido de causa.
D a oração “sem precisar roer nenhum chifre” apresenta valor sintático-semântico idêntico ao da oração “sem receber no rosto aquele bafo, quente e sensual”
E o trecho “para ser mais rico três vezes do que ele” contém apenas uma oração, que expressa a ideia de proporcionalidade.

R.: A

Respostas

respondido por: LarissaMoura3
0

Olá!

Aluísio Azedo foi um importante romancista, cronista e jornalista brasileiro representante do realismo e naturalismo. Uma das suas obras mais importantes é “O cortiço”. Texto desenvolvido através de mecanismos de coesão, coerência e significado.

Um exemplo de uso de conjunções e preposições (e respectivas locuções), palavras ou expressões conectoras que promovem a progressão textual encontra-se na passagem: “e cujas raízes, piores e mais grossas do que serpentes, minavam por toda a parte”. Onde o autor utiliza oração comparativa e verbo subentendido.

Sendo assim, a resposta correta é a alternativa a) na passagem “e cujas raízes, piores e mais grossas do que serpentes, minavam por toda a parte” encontramos oração comparativa com verbo subentendido.

Espero ter ajudado, bons estudos!

Perguntas similares