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Depois de décadas, o Brasil dá os primeiros passos para retomar o seu planejamento estratégico. Por enquanto, a visão ainda está muito presa ao médio prazo, com iniciativas isoladas. Mas a necessidade de ter diretrizes e objetivos claros para o longo prazo se impõe como condição essencial para o desenvolvimento econômico e social do país. E ganha maior relevância ainda em um ano marcante, como 2009, por comportar a maior crise do capitalismo pós-1929. Passados 80 anos, o mundo se vê no centro de um novo furacão econômico, com impacto social e econômico sem precedentes, inclusive sobre a geopolítica mundial. Mesmo em épocas mais calmas, pensar o longo prazo é fundamental. "Só acredito que a sociedade possa se desenvolver de forma planejada", afirma Carlos Lessa, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e integrante do Conselho de Orientação do Ipea. E, claro, as diretrizes estabelecidas no planejamento têm que ser seguidas. Sem planejamento, grandes oportunidades podem se transformar em pesadelo: "O planejamento sempre foi e continua sendo fundamental para qualquer país que queira colocar em prática uma política de crescimento, de desenvolvimento. Não dá para acreditar que essas coisas venham espontaneamente", acrescenta Mário Theodoro, diretor de Estudos, Cooperação Técnica e Políticas Internacionais do Ipea.
O objetivo "é, em última instância, a qualidade da nossa sociedade, de cidadania e qualidade de vida da população", afirma Pérsio Davison, técnico de planejamento e pesquisa desde 1973 e atual chefe de gabinete da Presidência do Ipea. É um desafio que se impõe à sociedade, sobretudo aos meios acadêmicos e instituições de pesquisa, como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Com a economia estabilizada e situação fiscal controlada, o país tem agora que enfrentar o grande desafio de planejar o seu futuro para daqui a, digamos, 20 anos. Isso significa tomar decisões hoje e implantar projetos de forma coordenada, pensando em resultados num prazo que perpassa diversos governos. Aos 45 anos, completados neste mês de setembro, o Ipea passou por uma ampla reorganização interna para atender a demanda por estudos e colaborar na formulação de propostas de longo prazo para o país, pensando agora nos próximos 45 anos. Na verdade, é a retomada do seu papel histórico: criado em setembro de 1964, o instituto participou ativamente da elaboração dos grandes planos nacionais de desenvolvimento. "A história (dos últimos 45 anos) não pode ser contada sem a colaboração do Ipea", resumiu o presidente Marcio Pochmann. Coube ao Ipea fazer o diagnóstico da situação brasileira, que balizou a montagem do primeiro plano de ação do governo militar, afirma Jorge Abrahão, diretor de Estudos e Políticas Sociais da instituição. O instituto foi criado numa época difícil do país. Logo depois do golpe militar de 1964. Mas, se colocar na balança, o resultado do trabalho do Ipea é muito positivo, declarou o presidente Lula, em discurso na sede do instituto.