Ai de ti, Copacabana, porque eu já fiz o sinal bem claro de que é chegada a véspera de teu dia, e tu não viste; porém minha voz te abalará até as entranhas.
Ai de ti, Copacabana, porque a ti chamaram Princesa do Mar, e cingiram tua fronte com uma coroa de mentiras; e deste risadas ébrias e vãs no seio da noite. Já movi o mar de uma parte e de outra parte, e suas ondas tomaram o Leme e o Arpoador, e tu não viste este sinal; estás perdida e cega no meio de tuas iniqüidades e de tua malícia. Sem Leme, quem te governará? Foste iníqua perante o oceano, e o oceano mandará sobre ti a multidão de suas ondas.
Grandes são teus edifícios de cimento, e eles se postam diante do mar qual alta muralha desafiando o mar; mas eles se abaterão. 6. E os escuros peixes nadarão nas tuas ruas e a vasa fétida das marés cobrirá tua face; e o setentrião lançará as ondas sobre ti num referver de espumas qual um bando de carneiros em pânico, até morder a aba de teus morros; e todas as muralhas ruirão.
E os polvos habitarão os teus porões e as negras jamantas as tuas lojas de decorações; e os meros se entocarão em tuas galerias, desde Menescal até Alaska. Então quem especulará sobre o metro quadrado de teu terreno? Pois na verdade não haverá terreno algum.
Ai daqueles que dormem em leitos de pau-marfim nas câmaras refrigeradas, e desprezam o vento e o ar do Senhor, e não obedecem à lei do verão.
Ai daqueles que passam em seus cadilaques buzinando alto, pois não terão tanta pressa quando virem pela frente a hora da provação. Tuas donzelas se estendem na areia e passam no corpo óleos odoríferos para tostar a tez, e teus mancebos fazem das lambretas instrumentos de concupiscência.
Uivai, mancebos, e clamai, mocinhas, e rebolai-vos na cinza, porque já se cumpriram vossos dias, e eu vos quebrantarei.
Ai de ti, Copacabana, porque os badejos e as garoupas estarão nos poços de teus elevadores, e os meninos do morro, quando for chegado o tempo das tainhas, jogarão tarrafas no Canal do Cantagalo; ou lançarão suas linhas dos altos do Babilônia.
E os pequenos peixes que habitam os aquários de vidro serão libertados para todo o número de suas gerações.
Por que rezais em vossos templos, fariseus de Copacabana, e levais flores para Iemanjá no meio da noite? Acaso eu não conheço a multidão de vossos pecados?
Antes de te perder eu agravarei tua demência — ai de ti, Copacabana! Os gentios de teus morros descerão uivando sobre ti, e os canhões de teu próprio Forte se voltarão contra teu corpo, e troarão; mas a água salgada levará milênios para lavar os teus pecados de um só verão.
E tu, Oscar, filho de Ornstein, ouve a minha ordem: reserva para Iemanjá os mais espaçosos aposentos de teu palácio, porque ali, entre algas, ela habitará.
E no Petit Club os siris comerão cabeças de homens fritas na casca; e Sacha, o homem-rã, tocará piano submarino para fantasmas de mulheres silenciosas e verdes, cujos nomes passaram muitos anos nas colunas dos cronistas, no tempo em que havia colunas e havia cronistas. Pois grande foi a tua vaidade, Copacabana, e fundas foram as tuas mazelas; já se incendiou o Vogue, e não viste o sinal, e já mandei tragar as areias do Leme e ainda não vês o sinal. Pois o fogo e a água te consumirão.
A rapina de teus mercadores e a libação de teus perdidos; e a ostentação da hetaira do Posto Cinco, em cujos diamantes se coagularam as lágrimas de mil meninas miseráveis — tudo passará. Assim qual escuro alfanje a nadadeira dos imensos cações passará ao lado de tuas antenas de televisão; porém muitos peixes morrerão por se banharem no uísque falsificado de teus bares.
Pinta-te qual mulher pública e coloca todas as tuas jóias, e aviva o verniz de tuas unhas e canta a tua última canção pecaminosa, pois em verdade é tarde para a prece; e que estremeça o teu corpo fino e cheio de máculas, desde o Edifício Olinda até a sede dos Marimbás porque eis que sobre ele vai a minha fúria, e o destruirá. Canta a tua última canção, Copacabana!
1-Aideti,Copacabana é uma crônica intertextual. Releia estes trechos: Aideti ; referver de espumas bando de carneiros em pânico as muralhas ruirão a hora da provação Porque rezais em vossos templos. Fariseus a multidão de vossos pecados porque eis que sobre ele vai a minha fúria, e o destruirá pois o fogo e a água te consumirão. Com qual texto a crônica dialoga?Justifique
2- Explique a presença de numeração nos parágrafos.
3-Releia o trecho a seguir e explique a que ele se refere.“Porque rezais em vossos templos, fariseus de Copacabana, e levais flores para Iemanjá no meio da noite?
Respostas
1-"Ai de ti , Copacabana "é uma crônica intertextual.
Releia estes trechos:
" Ai de ti ; referver de espumas bando de carneiros em pânico as muralhas ruirão a hora da provação
Porque rezais em vossos templos.
Fariseus a multidão de vossos pecados porque eis que sobre ele vai a minha fúria, e o destruirá pois o fogo e a água te consumirão.
Com qual texto a crônica dialoga?Justifique
O texto dialoga :
1º com o DILÚVIO bíblico onde os pecadores foram mortos pelas águas . Pois a cidade do Rio de Janeiro fica à beira mar e ele achava que uma onda podia destruir a cidade
2º com a passagem bíblica da destruição de SODOMA e GOMORRA , onde o fogo asfdestruiu as duas cidades pecadoras e a cidade do Rio , era cheia de pecados - a destruição da pecaminosa Copacabana .
2- Explique a presença de numeração nos parágrafos.
* a numeração em cada um dos parágrafos sugerem diálogo com versículos e capítulos bíblicos.
3-Releia o trecho a seguir e explique a que ele se refere.
“Porque rezais em vossos templos, fariseus de Copacabana, e levais flores para Iemanjá no meio da noite?"
RUBEM BRAGA crítica o dualismo religioso dos cariocas , que frequentam os templos católicos ( igrejas ) e depois vão à praia cultuar , levando à Iemanjá , a rainha do mar , flores e presentes .
Resposta:
1° o narrador é Um ser superior um profeta que tem o poder de prever o futuro
trechos do texto :
" minha voz te abalar até as minhas entranhas "
"já movi o mar de uma parte e de outra parte"
"eu a gravarei a tua demência "
" Eis que sobre ele vai a minha fúria e o destruirá "
2° o narrador se refere a Copacabana com o objetivo de ameaçá-la "ai de ti" (ai que dó de você)
3° a crônica "vai minha fúria"