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Se Nicolau Nasoni é, indiscutivelmente, o arquitecto que marca a imagem do Porto da época barroca, e dá uma expressão nova à euforia do enriquecimento proporcionado pelo ouro do Brasil, a identificação da obra que efectivamente realizou na cidade está ainda por realizar. A ausência de documentação tem sido o principal limite a esse trabalho, sobrando, por isso - e na sequência do levantamento, fundamental, feito por Robert C. Smith na década de 1960 -, uma lista tão exaustiva quanto até difícil de acreditar.
No guia O Porto de Nasoni, que acaba de ser publicado, o historiador Joel Cleto diz mesmo que "é humanamente muito improvável, para não dizer impossível, que o arquitecto italiano tenha produzido tudo aquilo que lhe é atribuído".
Já Manuel Montenegro considera que essa lista exaustiva normalmente atribuída ao italiano é um desafio e "um convite às pessoas a ver e julgar por si próprias, porque não faz mal a ninguém ver boa arquitectura (seja ela de Nasoni ou não)".
Assim, e sem qualquer preocupação de debate nem exaustividade, aqui fica uma lista de obras que justificam essa visita ao barroco de Nasoni, no Porto e arredores.
Na cidade que acolheu o arquitecto italiano, há duas obras fundamentais, que são, de resto, também as mais significativas da sua criação civil: o Palácio e Jardins do Freixo (hoje uma pousada) e a Casa e Jardim da Prelada (hoje propriedade da Santa Casa da Misericórdia, e que irá acolher o arquivo histórico da Confraria dos Clérigos).
Nicolau Nasoni "parece ter querido revelar [no Palácio do Freixo] toda a sua genialidade e satisfazer um capricho das suas capacidades decorativas e arquitectónicas, exprimindo assim um claro sinal de gratidão para com o seu principal mecenas", escreve Joel Cleto, referindo-se à relação privilegiada que o arquitecto italiano manteve com D. Jerónimo de Távora e Noronha Leme e Cernache, proprietário do Freixo.
O complexo da Prelada (propriedade entretanto cortada ao meio pela construção da VCI) mostra também a variedade da arte de Nasoni, que entre a casa e os jardins distribuiu uma série de elementos decorativos - brasões, frontões, fontes, volutas, fogaréus, balaustradas, conchas... -, que, por si só, permitiriam quase estabelecer um dicionário do barroco. (O chafariz e obeliscos da Prelada foram transferidos, no século XX, para o Jardim do Passeio Alegre, na Foz do Douro).