Respostas
Numa perspetiva gramatical muito simplificada, pode afirmar-se que o pronome pessoal átono nos tem a função de complemento indireto na frase «ele era-nos muito querido». Em estudos mais especializados, dir-se-á que é um dativo* ético, ou seja, trata-se de um pronome ou de uma expressão nominal que marca a entidade (geralmente uma pessoa) que é afetada ou envolvida de alguma forma pelo estado, pela situação ou pela ação a que a frase faz referência.
* O termo dativo faz parte da descrição de línguas que têm declinações, isto é, das línguas que marcam as funções sintáticas atribuídas aos elementos que geralmente complementam ou modificam os verbos por meio de variações (casos) dos substantivos e das palavras que com estes concordam. Por exemplo, considere-se a frase «uma escrava dá uma rosa a uma menina», em que «à menina» é um complemento indireto constituído por um grupo preposicional: numa língua com declinações como o latim, a tradução será «ancilla rosam puellae dat», em que ancilla tem a função de sujeito (caso nominativo), rosam, a função de complemento direto (está no caso acusativo, como indica o sufixo flexional -m), e puellae, a função de complemento indireto (caso dativo, marcado pela terminação -ae). Em português esta classificação não é usada, porque não existem casos; em vez disso, empregam-se preposições, como sucede com os complementos indiretos («a uma menina»). No entanto, é relevante falar em dativo para descrever usos que requeiram uma análise mais aprofundada.