• Matéria: Português
  • Autor: brunostalin1
  • Perguntado 7 anos atrás

Na obra canção do exílio, em quais trechos da obra, percebe-se esse movimento entre Brasil e Portugal?

Respostas

respondido por: lucasferreiras65
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Apesar de ser um texto de profunda exaltação à pátria, o poema possui total ausência de adjetivos qualificativos. São os advérbios “lá, cá, aqui” que nos localizam geograficamente no poema. Formalmente, o poema apresenta redondilhas maiores (sete sílabas em cada verso) e rimas oxítonas (lá, cá sabiá), menos na segunda estrofe.

Quando Gonçalves Dias escreveu este poema, cursava Faculdade de Direito em Coimbra, em Julho de 1843. Vivia, desta forma, um exílio físico e geográfico. Tradicionalmente, esta é a situação do exílio.

Gonçalves Dias não foi o primeiro a falar de exílio. Nos textos bíblicos, temos inúmeros relatos referentes a esse assunto. Destacamos abaixo uma passagem, cantada elo salmista Davi, que refere-se aos judeus cativos em Babilônia. O texto bíblico revela a tristeza e o choro dos judeus, que têm seus instrumentos de música pendurados nos salgueiros, à beira dos rios de Babilônia. Quando os opressores lhes pedem que cantem uma canção de sua terra, eles indagam:

“Como entoaremos o cântico do Senhor em terra estranha? (...) Apegue-se me a língua ao paladar, se me não lembrar de ti, se não preferir Jerusalém à minha maior alegria”. (Salmos 137:4-6)

A “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias inspirou vários poetas de diversas épocas. Casimiro de Abreu, poeta contemporâneo de Dias, Compôs uma “Canção do Exílio” seguindo a mesma temática do texto matriz, apenas acrescentando ao poema uma referência à sua infância, à figura materna e substituiu “palmeiras” por “laranjeiras”.

E este mundo não val um só dos beijos

Tão doce de uma mãe!

(...)

Dá-me os sítios gentis onde eu brincava

Lá na quadra infantil;

Dá que eu veja uma vez o céu da pátria,

O céu do meu Brasil!

Se eu tenho de morrer na flor dos anos,

Meu Deus! não seja já

Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,

Cantar o sabiá!

O poema “Canto de regresso à pátria”, de Oswald de Andrade, é uma produção realizada no início da década de 20, época que se caracterizava pelo nacionalismo crítico e por uma revisão tanto da história do Brasil como da produção literária anterior que, segundo o pensamento da época, havia uma apropriação inadequada das produções e ideais estrangeiros. Oswald foi o precursor do antropofagismo, que significa “comer o que vem de fora, desfazendo-se do que é de fora e incorporando elementos nacionais”. É nessa perspectiva que Oswald critica a forma ufanista de Gonçalves Dias ao valorizar os elementos nacionais. No “Canto de regresso à pátria”, Oswald, por trás do humor e da sátira, ainda mantém o caráter nacionalista na poesia, mas sob um olhar crítico. A Rua 15, que abriga as principais agências bancárias do país, contrapõe-se ao progresso de São Paulo, que implica em mais poluição, desapropriação da natureza para dar lugar aos arranha-céus e à desigualdade social.

Não permita Deus que eu morra

Sem que eu volte pra São Paulo

Sem que eu veja a Rua 15

E o progresso de São Paulo.

Murilo Mendes, em sua “Canção do Exílio”, utiliza o mesmo humor e sátira de Oswald de Andrade, mas foi mais ousado ao apresentar uma nova perspectiva em sua releitura: denuncia a invasão cultural estrangeira no Brasil. O nacionalismo em seu poema se fundamenta numa crítica à realidade sócio-cultural brasileira. Ele não se conforma em se aceitar tudo o que vêm de fora: as frutas, os pássaros, os artistas, as ideologias... Ele tem consciência de que também temos coisas boas e que temos de valorizá-las. Ele mostra, porém, que quando isso acontece, o preço das coisas sobem: temos de comprar frutas de “quinta categoria”, que são baratas, pois as nossas frutas, que são às melhores, são exportadas e, quando comercializadas aqui, custam “o olho da cara”. Essa desigualdade sócio-cultural faz o poeta sentir-se um exilado em sua própria terra:

Eu morro sufocado

Em terra estrangeira

Nossas flores são mais bonitas

Nossas frutas são mais gostosas

Mas custam cem réis a dúzia.

Na última estrofe, o poeta propõe uma forma de “abrasileirar” o Brasil, expressa pela vontade de “chupar uma carambola de verdade” (da terra, do Brasil) e de ouvir um sabiá cantar, mas que tenha uma certidão de nascimento que comprove a nacionalidade brasileira.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade

E ouvir um sabiá com certidão de idade!

Já Drummond, poeta da geração de 30, utiliza em sua releitura “Nova Canção do Exílio” a imagem do sabiá e da palmeira para idealizar um lugar indeterminado. Sugere um espaço, “onde tudo é belo e fantástico”: o longe, lugar de onde veio. Esse afastamento constitui o seu exílio.

Ainda um grito de vida e

voltar

para onde tudo é belo

e fantástico:

a palmeira, o sabiá,

o longe.

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