• Matéria: Português
  • Autor: arthurfjoaquimp592a6
  • Perguntado 7 anos atrás

Eu, Etiqueta

Carlos Drummond de Andrade

Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de batismo ou de cartório,
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
(...)
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça até o bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordem de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim-mesmo,
ser pensante, sentinte e solitário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio,
ora vulgar, ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
(...)
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Disponível em: Acesso em 25 mar 2019)



(ADAPTADA - CP2 - 2017) O verso “de não ser eu, mas artigo industrial” (verso 42) pode ser explicado de modo coerente, quando consideramos que, devido

A
ao consumismo e à necessidade de seguir padrões estipulados, a identidade do eu lírico se perde.

B
à integração do eu lírico com o artigo industrial, a identidade do eu lírico de destaca.

C
ao desapego dos bens materiais e à crítica aos padrões estipulados, a identidade do eu lírico se perde.

D
ao desapego dos bens materiais e à crítica aos padrões estipulados, a identidade do eu lírico se consolida.

E
ao consumismo e à necessidade de seguir padrões estipulados, a identidade do eu lírico se fortifica.

Material de apoio:
Caminho das Pedras
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Respostas

respondido por: eduardazilke0
17

resposta: letra A

quando o eu lirico chama a si mesmo de artigo industrial, ele se objetifica, tomando por base dessa objetificaçao a perda de identidade. Seguir a moda e os costumes capitalistas, para ele, significa abdicar-se a si mesmo.


arthurfjoaquimp592a6: obg mn
respondido por: MarFei751
3

resposta: letra A   espero ter ajudado

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