Respostas
Introdução
Apresentar-se o avanço da automação nos locais de trabalho como destinada a um
aproveitamento qualitativamente superior da força de trabalho, seja no sentido de
libertá-la de tarefas arriscadas, seja no de deslocar os (as) trabalhadores (as) por elas
responsáveis a atividades consideradas mais qualificadas, não é algo raro na história,
principalmente em se tratando dos discursos dos proprietários dos meios de produção.
Todavia, estudos empreendidos numa perspectiva histórica e crítica acerca dos modos
de produção e das formas de apropriação privada do trabalho humano permitem
questionar tais discursos, indagando-se, por exemplo, acerca do conteúdo das novas
qualificações exigidas aos (às) trabalhadores (as) nestas mudanças, as sutilezas nas
formas de controle social surgidas e, mesmo de uma perspectiva mais ampla, os custos e
benefícios sociais advindos desses processos de “objetivação” do trabalho humano em
máquinas, considerando-se a totalidade dos esforços investidos pela sociedade na
formação educacional e profissional da sua força de trabalho, em face de fenômenos
como o desemprego estrutural, a rotatividade ou mesmo o absenteísmo.
Dentro dessa temática, pretende-se no presente texto abordar as relações entre a
automação e o trabalho humano no contexto histórico do capitalismo contemporâneo,
amparando-se em experiências como as desenvolvidas por setores avançados da
indústria metalúrgica, como a cadeia automotiva, e os sistemas de organização do
trabalho que, daí surgidos, tornaram-se os mais influentes, desde o início do século XX
até os dias atuais, quais sejam: o sistema taylorista/fordista e o sistema toyotista.
Objetivos
2
Analisar alguns dos principais precedentes e efeitos da automação do trabalho humano
no século XX, a qual ocorreu, ora sob a metodologia de organização taylorista/fordista,
ora sob a metodologia toyotista. Entre as diferenças, nesses casos, encontra-se o uso de
um mesmo conceito, o de flexibilidade, como meta a ser alcançada pelos proprietários
dos meios de produção, ou pelas gerências assalariadas das empresas.
Mostrar-se-á, então, como o conceito de flexibilidade adquire significados distintos em
cada situação, embora o pressuposto básico de sua aplicação no modo de produção
capitalista seja o mesmo: sustentar a propriedade privada dos meios de produção e a
divisão social e técnica do trabalho, combater as lutas sociais dos que vivem da venda
da própria força de trabalho, multiplicar as formas de assalariamento e proletarização,
tudo em prol de manter-se o circuito global de acumulação de capital.
Nessa perspectiva de análise, questiona-se neste texto a hipótese de uma “qualificação”
inerente ao trabalho denominado “polivalente” pelo sistema toyotista, ao supor que tal
polivalência resgata a compreensão global dos (as) trabalhadores (as) acerca dos limites
e alcances das suas funções no conjunto geral da divisão social e técnica do trabalho em
que se inserem nas organizações contemporâneas.