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A crescente desigualdade de renda, a instabilidade social, a sustentação do crescimento e a preservação do ambiente são os principais desafios da China, na avaliação de Li Shi, professor da Universidade Normal de Pequim. Li, participante das preparações para a Plenária do Partido Comunista, que anunciou reformas recentemente, esteve no Rio para participar de um seminário organizado em parceria pelo FGV/Ibre e pelo Instituto de Estudos da América Latina da Academia de Ciências Sociais da China.
A China reduziu sua pobreza, mas também teve aumento da desigualdade. O que levou a isso?
Nos últimos 30 anos, vimos grande redução de pobreza, principalmente rural. No início dos anos 80, tínhamos 250 milhões de pobres. No fim daquela década eram cem milhões. Hoje, são 30 milhões de pobres. Mas o crescimento da renda foi maior para os mais ricos, o que elevou à desigualdade. Para o governo, o importante era fazer o bolo crescer.
Isso mudou?
Percebeu-se que a desigualdade poderia gerar um problema social. Então lançaram medidas como busca da educação primária universal e da ampliação de cobertura de serviços médicos e programas de alívio da pobreza. Mas a magnitude e o efeito das medidas não são tão grandes.
Há risco de a China cair na armadilha da renda média e não elevar a renda?
Há muita discussão sobre o assunto. A China ainda deve levar dez anos para ser um país de renda elevada, se mantiver crescimento de 7%. Se compararmos com Brasil e Argentina, há riscos para a China, mas ainda há vantagens: manterá a urbanização, pode expandir o número de universitários, o setor de serviços ainda é pequeno e os novos direitos à terra permitirão que os camponeses consumam mais.
Qual é o maior desafio hoje?
Há muitos: a crescente desigualdade de renda, a instabilidade social, a sustentação do crescimento econômico e o meio ambiente.
O envelhecimento da população preocupa?
A China pode ter que enfrentar problemas, mas não a curto prazo. O governo já está agindo: tenta adiar a idade da aposentadoria e organiza mudanças na política do filho único.
O senhor defende a aceleração da reforma política. Mas o tema não apareceu nas medidas anunciadas após o encontro do Partido...
Não se pode esperar grandes mudanças da noite para o dia. A palavra é gradualismo. No último documento, não falam disso explicitamente, mas mencionam uma reforma política. Acho que o principal objetivo dela é aumentar o combate à corrupção.
O que vê de mais importante no que foi anunciado pelo governo?
O aumento da importância do mercado e a redução da intervenção do governo, assim como as oportunidades iguais para empresas estatais e privadas. As reformas na propriedade rural e a intenção de reduzir a desigualdade de renda também.
Há quem esteja cético quanto às chances de implementação...
Criou-se uma nova organização, o grupo de líderes que será responsável pela implementação das reformas nos ministérios. E é a primeira vez que se fixa um prazo para as reformas: 2020.
Acredita que é possível manter crescimento sustentado?
Talvez este ano se consiga crescer um pouco acima da meta de 7%. E os impactos da reforma devem fazer com que não seja difícil chegar a 7% nos próximos cinco anos. Mas é difícil fazer previsões a longo prazo.