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A questão energética é, fora de dúvida, uma das mais complexas enfrentadas pelo desenvolvimento chinês. Primeiro, porque o crescimento econômico e social acelerado requer uma infra-estrutura energética compatível. Segundo, porque a principal fonte de energia da China é o carvão. Terceiro, porque a construção de instalações de geração elétrica de fontes mais limpas, como a hidráulica, a eólica e a nuclear, exige altos investimentos e têm maturação lenta. Quarto, porque a China ainda não é auto-suficiente em petróleo e gás. Quinto, porque o país possui condições de solo que não lhe permitem desenvolver a plantação de espécies próprias para a produção de biocombustíveis sem afetar, de algum modo, a produção agrícola de alimentos.
O crescimento econômico, mais rápido do que o crescimento da infra-estrutura energética de eletricidade, fez com que a China sofresse racionamentos e apagões elétricos entre 1999 e 2003. Isto levou muitos governos locais a apelarem para o uso de grupos geradores a óleo cru, ou a diesel, criando um mercado paralelo ilegal de energia elétrica, altamente poluidor.
Após 2002, começaram a entrar em operação os projetos hidrelétricos, em construção desde meados dos anos 1990. Entre aquele ano e 2007, a China adicionou 350 GW de energia a seu potencial elétrico, somando 720 GW de potência instalada, um excedente momentâneo de energia.
Isso lhe permitiu retirar de circulação, no mesmo período, 21 GW de usinas geradoras obsoletas e poluentes, reduzir de 74% para 63% a participação do carvão na matriz da energia elétrica e elevar de 2% para 20% a participação dos recursos hídricos, de 1% para 6% a participação da energia nuclear, de 1% para 4% a participação das eólicas e de 1% para 3% a participação da energia solar. Até 2015, a China deve acrescentar entre 300 e 500 GW em sua matriz de energia elétrica, com base em novas hidrelétricas, usinas nucleares, fazendas eólicas e usinas térmicas com carvão líquido.
De qualquer modo, se a China quiser combinar seu desenvolvimento de energia elétrica com a conservação ambiental, ela terá não só que racionalizar e economizar o uso da eletricidade, mas também reduzir radicalmente o número das usinas térmicas a carvão que utilizam tecnologias antigas e poluidoras. Neste caso, estamos falando na remodelação de cerca de 450 GW de potência instalada, o que não poderá ser realizado em curto prazo.
Além disso, a participação do petróleo, do gás e do carvão na matriz energética chinesa leva em conta as necessidades de outros setores econômicos altamente poluentes, como os meios de transporte, siderúrgicas e fábricas de cimento, para ficar apenas nas principais. A China produz, anualmente, mais de 8 milhões de veículos automotores, 6 milhões de tratores, 422 milhões de toneladas de aço e 1,2 bilhão de toneladas de cimento. Nessas condições, os esforços para reduzir a emissão de gases poluentes demandarão inovações e mudanças tecnológicas profundas nos sistemas produtivos e na busca de novas fontes energéticas limpas.
Wladimir Pomar é escritor e analista político.