Respostas
No século XI, a pintura sobre livros era uma arte fortemente enraizada na Europa. Os seus princípios remontam ao início da Idade Média e à tradição monástica, pois era nos scriptoria e das catedrais ou dos mosteiros e conventos que se copiavam os livros manuscritos – Bíblias, manuais litúrgicos, Vidas de Santos, Apocalipses, crónicas históricas, tratados filosóficos, etc., produtos raros e preciosos, destinados a uma pequena clientela de eruditos, os únicos que, nesta época de barbárie e obscurantismo, os sabiam apreciar.
Eram os próprios monges copistas que se encarregavam de ilustrar essas obras com desenhos pintados onde fantasiosamente se misturavam pessoas, animais, elementos vegetalistas estilizados e formas geométrico-abstratas de elevado sentido decorativo. Crê-se que muitos deles se terão ocupado exclusivamente com as iluminuras, tornando-se numa espécie de especialistas.
Estas pinturas ora ocupavam páginas inteiras com cenas narrativas ou descritivas retiradas dos textos que os livros continham (como nos Saltérios), ora se reduziam à decoração das letras iniciais dos capítulos ou parágrafos, denominadas de iniciais ornadas ou capitulares. As técnicas empregues denotam enorme destreza de execução e de capacidade de síntese, a par de uma extraordinária imaginação, traduzida na variedade de temas e de modelos iconográficos representados, na fantasia dos coloridos e no sentido de ritmo e movimento das suas composições. Por tudo isto, as pinturas dos livros aparecem-nos como mais diversificadas, originais e criativas que as dos frescos, que obedeceram a programas temáticos e a concepções plásticas mais uniformes e internacionais. Daí que, em muitos casos, tenha sido a pintura dos livros a servir de fonte de inspiração plástica e temática para os pintores murais.
Este facto explica-se pelas diferenças existentes entre frescos e as iluminuras quanto ao modo de produção e ao público que se propunham alcançar. Enquanto os primeiros eram elaborados por artistas itinerantes e se destinavam ao povo simples que não sabia ler e mal percebia a doutrina exposta pelos padres, as iluminuras eram realizadas por monges que se especializavam nessa arte, em locais estáveis como os conventos (o que proporcionava a continuidade nas oficinas e o amadurecimento das técnicas), dirigindo-se a um público mais exigente e culto que sabia ler e entendia as simbologias.
Um manuscrito iluminado seria estritamente aquele decorado com ouro ou prata, mas estudiosos modernos usam o termo "iluminura" para qualquer decoração num texto escrito.