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1930 parece que não faz tanto tempo assim. São 77 anos, apenas quatro gerações. Mas, do ponto de vista do mercado de trabalho, as transformações foram tantas que 1930 dá a impressão de estar mais próximo do dia em que Pero Vaz de Caminha rabiscou a primeira carta em solo tupiniquim que da era da intemet. O Brasil tinha 37,6 milhões de habitantes em 1930. De cada dez brasileiros, oito eram analfabetos e sete viviam nas zonas rurais. Então um país essencialmente agrícola, o Brasil tinha sua economia atrelada a um único produto, o café. Do valor exportado em 1930, 80% vieram do que era então conhecido como "ouro negro" (ou rubiácea, para os eruditos).
Minas Gerais era o Estado mais populoso do país em 1930, com 7 milhões de habitantes. A maior cidade brasileira era o Rio de Janeiro, cuja população já batia no 1,5 milhão. Capital do país desde 1763, o Rio oferecia as melhores oportunidades a quem queria construir uma carreira - o serviço público.
Para o restante dos 30% de brasileiros que viviam nas zonas urbanas, e trabalhavam em fábricas ou no comércio, as perspectivas de "ser alguém na vida" eram praticamente nulas. O salário de um operário era de 240 mil-reis, e mal dava para viver. Um quilo de arroz custava 800 reis, mesmo preço de 1 litro de leite. E as condições de vida eram parcas: mais de 60% dos municípios brasileiros ainda não contavam com iluminação elétrica. Pior, perto de 80% das cidades não tinham água encanada nem rede de esgoto.
A situação, que não era boa, ainda pioraria. Como conseqüência da Grande Depressão, iniciada com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 24 de outubro de 1929, o comercio mundial sofreu uma brusca e repentina queda de 60%. O Brasil, dependente das exportações, foi um dos países mais atingidos. O preço mundial do cafe despencou da noite para o dia: a saca de 60 quilos caiu de 200 mil-reis, em agosto de 1929, para 21 mil-reis em janeiro de 1930.
A crise atingiu toda a economia brasileira. Mais de 500 empresas faliram, no Rio e em São Paulo. As que sobreviveram diminuíram a jornada de trabalho para três dias semanais. Como, na época, não existiam leis trabalhistas que impedissem reduções salariais, a remuneração dos trabalhadores caiu entre 40% e 50%. Em 1930, havia 2 milhões de desempregados, quase 20% da população urbana.
A crise se estendeu, sem solução à vista, pelos anos seguintes. Em 1934, o total de fábricas funcionando legalmente no Brasil era de 34 mil. Dessas, nada menos que 13.500 (41 %) produziam bebidas alcoólicas. Com a crise e o alto desemprego, a saída parecia ser, literalmente, afogar as mágoas.
Apesar de tantas notícias ruins, 1930 seria o marco inicial do novo mercado de trabalho brasileiro. No dia 3 de outubro, teve início a revolução civil que, 21 dias depois, deporia Washington Luiz, o presidente recém-eleito. Uma junta militar, encabeçada por Getúlio Vargas, assumiu o poder. A Ditadura Vargas duraria até 1945. Durante esses 15 anos, foram sedimentados os direitos básicos dos trabalhadores. Como o registro em carteira, o direito as férias e à aposentadoria e o salário mínimo.
Aos poucos, a população foi migrando do campo para as cidades. A industrilização fez com que, em 1958, São Paulo se tornasse a maior cidade do Brasil, com 3,3 milhões de habitantes. Dos 65 milhões de brasileiros de 1958, 53% tinham menos de 20 anos. Esse enorme contingente de jovens já não pensava como a geração de 1930. Sua meta passara a ser a indústria, e não mais a roça. Com oito anos de estudo - o "ginásio completo" -, era posssível conseguir um emprego decente.
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