• Matéria: Geografia
  • Autor: AnimaLink
  • Perguntado 7 anos atrás

Como Ocorre Uma Erosão Lolitua?​

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respondido por: 4796100N
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Resumo: A hipótese inicial desta tese é a de que em Lolita as categorias narrativas tradicionais do realismo literário (tempo, espaço, personagens, enredo, foco narrativo) sofrem uma desfuncionalização radical que demonstra tanto sua falência quanto, no mesmo movimento, o avanço da lógica da reificação. Partindo disso, os capítulos seguintes passarão a conceber certos aspectos de Lolita e da obra de Nabokov em geral que funcionam como mecanismos de defesa contra aquilo que será inicialmente esboçado como a relação entre arte avançada e mercado. Isto é, a mudança histórica definida pela centralidade crescente da forma mercadoria em todas as esferas da vida social, caracterizada em sua relação com a cultura por Adorno e Horkheimer (2006), não se restringe a questões relacionadas à circulação posterior das obras, como a princípio poderia parecer ser o caso com relação ao alto modernismo. Ao contrário, como ficará claro a partir de Lolita, o princípio de dominação abstrata que regula a produção de mercadorias vai integrando progressivamente também o próprio processo de produção das obras de forma inaudita, abrindo a possibilidade de que seja não apenas tematizado, mas tornado, mesmo que involuntária ou inconscientemente, material a ser peculiarmente elaborado. À definição de Jameson (2005) do modernismo tardio apresentada em Modernidade singular como sendo diferente do alto modernismo precisamente por ter acontecido após este ¿ ou seja, sem o direito a uma reivindicação legítima da originalidade de sua posição, essencial ao éthos modernista ¿, deve-se acrescentar o movimento da subsunção formal à subsunção real da produção artística, tal como argumentado por Nicholas Brown (2015), por exemplo, a partir de Marx. De forma esquemática, tal movimento consiste na integração não só da circulação, mas também da produção artística à lógica da mercadoria, que considera os objetos produzidos como mero suporte de um valor de troca que em última instância determina todo o seu processo de elaboração ¿ o que, em relação à arte, acabará se convertendo na consideração crescente das expectativas do público, rumo à submissão total. Se Lolita não se encontrava ainda integralmente circunscrita a essa lógica, certamente reage até hoje à sua ameaça, e seu caso é sintomático da encruzilhada na qual a produção artística se encontrava no momento de consolidação definitiva da indústria da cultura, algo que está inscrito à força na filigrana do romance, mesmo que contra a vontade de seu autor. Nossa leitura de Lolita começará por sua camada mais superficial para que, a partir da observação atenta das contradições que nela se manifestam, sejamos apontados continuamente para seus níveis de significação mais profundos, onde as contradições inicialmente percebidas tornarão a aparecer ainda mais carregadas de tensão. No caso, esse gesto consistirá inicialmente em tomar ao pé da letra a forma como o romance aparenta querer ser lido: como uma confissão que encena o amadurecimento moral progressivo de um narrador que gradualmente se dá conta de todo o sofrimento por ele causado às pessoas ao seu redor, e em especial a sua amada Dolores Haze. Nesse sentido, será possível observar como a própria organização do enredo serve a um propósito muito específico, relacionado à tentativa de imortalizar Lolita, o que por sua vez gera uma série de problemas interpretativos que acabarão exigindo a consideração das outras categorias que compõem a narrativa. Uma vez chegado ao seu núcleo, poderemos refazer o caminho de modo a ver tanto o arrependimento quanto a imortalidade pretendida sob uma luz bastante diversa da inicial. O mesmo movimento se aplicará, nos capítulos seguintes, a alguns outros romances de Nabokov, vistos pelo prisma da metaficção, como forma de retornarmos a Lolita para encararmos o problema do arrependimento de uma perspectiva renovada, de modo a preparar o caminho para se compreender a relação entre o romance e a ideia da subsunção real da arte sob o capital

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