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Com a proposta de transformação, Rischbieter abordou outros caminhos e modos de ensinar, que ressaltam a beleza da Matemática, conhecida como uma matéria muitas vezes temida pelos alunos. “A Matemática é algo maravilhoso, mas costuma ser ensinada de um jeito que faz a maioria das pessoas não gostar do assunto”, acredita o consultor pedagógico. A palestra chamou a atenção de professores, educadores e representantes de escolas para um novo olhar sobre a disciplina.
Em entrevista para a Revista ARede, Luca Rischbieter comenta sobre o relevante tema da palestra e também dá dicas a todos que gostariam de inovar no processo de ensino-aprendizagem de Matemática. Confira!
Como surgiu a sua preocupação com o modo de ensinar e aprender Matemática?
Rischbieter – Surgiu no contexto de uma crítica geral ao ensino baseado em decorar e em repetir. Fui professor não de Matemática, mas de Geografia, e minhas primeiras reflexões e experiências em Engenharia Didática foram nessa área. Meu foco mudou a partir de meu mestrado na França, no começo dos anos 90. Eu fui para lá pensando em estudar Didática da Geografia, mas o encontro com uma disciplina ministrada por Gérad Vergnaud, um grande psicólogo da aprendizagem, aluno brilhante de Piaget, me levou para a Didática da Matemática, da qual ele é um dos fundadores.
Em sua opinião, quais as atitudes praticadas atualmente e de forma geral pelos educadores em sala de aula que, ao invés de despertar o interesse dos alunos por Matemática e agregar conhecimento, acabam prejudicando o processo de aprendizagem da disciplina?
Rischbieter – O que prejudica são as velhas atitudes de sempre: confundir “ensinar Matemática” com ensinar algoritmos de forma mecânica, com despejar exercícios, com não problematizar os conceitos. Se olharmos os cadernos das nossas crianças, é incrível constatar que elas vivem praticamente o mesmo pesadelo que nós vivemos há décadas, um ensino sem sentido. O ensino sem sentido é o grande inimigo da verdadeira democratização da Matemática.
Quais as suas dicas para o educador que pretende inovar na forma de preparar e conduzir suas aulas de Matemática?
Rischbieter – A principal seria “use a cabeça”, porque basta pensar um pouco para libertar-se da terrível armadilha que é a concepção tradicional de ensinar Matemática. A disposição para pensar leva rapidamente professores a mudar a forma de trabalhar a Matemática na sala de aula. A partir dessa “meta dica” [de pensar], dicas mais práticas incluem sugestões como: ”construa suas aulas em torno de desafios e de problemas instigantes”; “não dê repostas prontas, mas estimule o debate e a busca da certeza”; “aceite, valorize e discuta os erros, estimule o compartilhamento de erros, eles são excelentes portas de acesso para pensar”; “saiba que toda criança, jovem ou adulto pode aprender Matemática com significado, se o ensino for adaptado e desafiador”; “Matemática não é aplicação mecânica de fórmulas, é busca de sentido, de padrões”; “pense em abrir mão de provas com notas” etc.
Como a tecnologia pode auxiliar nesse processo de inovação do ensino e aprendizagem dessa disciplina?
Rischbieter – De inúmeras maneiras. O uso de aplicativos e de softwares tem seu papel para desenvolver o domínio da linguagem Matemática, e programas mais sofisticados, como simuladores, podem enriquecer muito a gama de problemas que podem ser criados e propostos. Toda a atividade de pesquisa é enriquecida exponencialmente se recorrermos à web para buscar informações. O que me parece mais importante é que as novas tecnologias, cada vez mais acessíveis e portáteis, permitem dar um papel muito mais ativo aos nossos aprendizes e, no fundo, essa é uma das principais mudanças de que precisamos para dar mais sentido à Matemática.
Quais os resultados que podem ser esperados com esse novo modo de ver o processo educacional da disciplina de Matemática?
Rischbieter – Não podemos dizer que esse modo de ver o ensino da Matemática seja “novo”, porque vamos encontrar ideias semelhantes em todos os autores que, ao longo de décadas e décadas, discutem a questão de como ensinar Matemática melhor, para o maior número de alunos. Acreditamos que, hoje, a percepção dos problemas dos modos mais tradicionais de ensinar, aliada a um desejo maior de mudança e às novas possibilidades que surgem com as novas tecnologias, permitam que, finalmente, “aprender Matemática” seja uma experiência instigante, acessível e transformadora para um número cada vez maior de estudantes. Isso é o que devemos esperar de um ensino renovado da Matemática.
Rischbieter – Ensinar Matemática de forma significativa, para o maior número de aprendizes, pode ser muito mais fácil do que a gente pensa, diante da realidade que conhecemos. O primeiro passo é confiar em uma mudança, e saber que a pesquisa acadêmica e inúmeras experiências pedagógicas comprovam que isso é não apenas possível, mas também mais divertido do que aferrar-se aos modos consagrados de ensinar Matemática.
ESPERO TER AJUDADO !!!!