Respostas
ele lida com o mundo da bola menos por inclinações subjetivas (presentes, mas discretas), e mais por uma perspectiva do trabalho e do trabalhismo, seja denunciando cartolas e clubes, seja cobrando de um político do futebol, na hora da comemoração do título da segunda divisão em Brasília, que pague os prêmios atrasados. Maninho aproveita a presença da câmera para expor a dívida e constranger o devedor. Ao lado, seus colegas pulam, cantam, gritam, com estádio vazio. Essa consciência de Maninho rege a dialética de Fora de Campo. Porque sua politização do futebol e seu discurso de proletariado são mandados ao vestiário quando sonha com a possibilidade de jogar em um grande esquete brasileiro ou mesmo internacional. Nas imagens finais, quando seu clube, o Dom Pedro, que ele considera um grande time, joga a Copa do Brasil. É seu grande momento na carreira. Chance de ser visto por um olheiro e pela televisão. O adversário e vilão: o Botafogo, do Rio (quase uma ironia para quem conhece o espírito derrotista e cético da torcida botafoguense). Maninho termina olhando para o nada. Lágrimas nos olhos.
Não é um documentário sobre fracassos ou de luto, mas sobre trabalhadores com limites claros, esforçados para sair da imobilidade social e econômica. É um documentário ao mesmo tempo cruel, respeitoso e realista com o mundo
Na manhã do dia 16 de setembro de 2015, tive um encontro via Skype com Adirley Queirós para conversarmos sobre, entre outras coisas, vizinhança, cinema, política e ficção-científica. Há mais de dez anos Adirley filma a cidade-satélite de Ceilândia, e de lá comunica-se com outros satélites, naves e estações espaciais. Essa cidade, vizinha da capital federal, é marcada por uma história de opressão e resistência que atravessa suas vivências cotidianas. Seu gosto por andar pelos avessos da cidade e de absorver a sua atmosfera estranha se une ao seu imaginário povoado por aventuras futuristas de filmes como Blade Runner e Mad Max e livros como Crônicas Marcianas, dando origem a filmes que fogem da normatividade narrativa. Por meio de um olhar pessoal e apaixonado, porém não-idealista desse lugar, Adirley constrói com sua equipe (formada em grande parte por vizinhos) um discurso sobre a cidade que levanta muitas questões importantes do Brasil de hoje, essa ficção absurda perdida entre passado e futuro.