Não há vagas
Ferreira Gullar
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira
Gullar, Ferreira in 'Antologia Poética'. Disponível em
nao-ha-vagas-ferreira-gullar> Acesso em 08 de ago. 2018.
QUESTÃO 12
(UNICENTRO 2019) Valendo-se de um tom de contestação, o poema “Não há Vagas” critica, fundamentalmente,
a) a escassez de emprego e a carência com relação aos gêneros alimentícios de primeira necessidade, como “arroz” e “feijão”.
b) a alienação de determinado tipo de poeta, para quem os problemas sociais e os dramas diários não devem afetar a poesia.
c) o marasmo do funcionário público “fechado em arquivos” e do operário “nas oficinas escuras” diante de suas próprias mazelas sociais.
d) a desigualdade social e a injustiça face àqueles que passam fome, não encontram emprego, pois nunca “há vagas”.
e) as relações perversas entre patrão e empregado, denunciando a falta de sensibilidade e de justiça social.
A resposta é a letra "B". Alguém poderia explicar o porquê?
Respostas
respondido por:
5
Resposta:
B
Explicação:
Observe que o poeta exprime seu ponto de vista no poema.
Não há espaço para os problemas sociais de fome, baixo salário, trabalho pesado, árduo e sem condições mínimas. Tem vaga para a beleza, a ausência de problemas, de um mundo irreal, ou seja, fora da realidade. Isto é, sem fome, no mundo das nuvens, fantasioso, que não fede nem cheira, longe, distante e fora da realidade.
Resp.: b
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